quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Miss universo

She was there, so beautifully and so careless that I couldn't care more about her.
She was standing there, starring at the stars, at that night, she was starring at the universe.
We, me and the boys, would not care about the shiny black night upon us. We could only look at her, stare at her.

The night. The universe. She. and the boys. The whole world would pay attention to that love, so pure. Free.
But we wouldn't move. And we would not say a word. We wouldn't ruin it.
And she. She meant the world as she didn't mean it.

domingo, 25 de novembro de 2007

Morte e vida de Adelaide

A menina queria inventar adorava inventar. Ela tinha inventado coisas, das quais ela mesma duvidara, e outras que ela jamais entendera. Tinha seus próprios dialetos, mas não aquela coisa conceitual, própria dos jovens, muitos menos as línguas dos “pês” os coisa parecida. Essa menina vivia com a avó, uma senhora. Costureira. A avó era costureira, e remendou a vida de Adelaide como pode. Cortou o A-DE-LAI-DE em pedacinhos e só aproveitou o del. A Del vivia inventando moda. E a avó jamais interferiu na vida da menina. Deixa a minha Del viver, porque a vida é curta e eu já vou me indo. A Del achava graça da coisa toda e foi incapaz de fazer qualquer coisa errada. Esta que sabia aproveitar a vida só quis saber de inventar coisas. A menina vivida que nem só ela, jamais deixou seu quarto. Fez daquilo o seu mundo. E a Del foi assim, passando a infância, o fim dela, a mocidade, até que a menina completou os dezessete anos. A avó fez uma festa. Para ela e Adelaide. O bolo de chocolate com cobertura de brigadeiro tinha em cima dezessete jujubas coloridas, formando seu nome Del. Quando a menina viu aquilo desatou a chorar. E não sabia se abraçava a avó ou se abria o único presente que esta lhe entregava ríspida. A velha agüentava de um tudo, mas ver a neta feliz daquele jeito lhe amolecia o coração. “Toma logo isso menina. Pega vai” e a Del só falava retalhos de palavras de tanto que soluçava.

Foram guardar as louças na cozinha . Dois pratos; dois copos, mas um com borda vermelha de batom de vó; duas colheres; uma garrafa vazia; metade de um bolo; alguns sorrisos e algumas lágrimas. Tudo isso elas foram botando no lugar.

A velha ia ligar a televisão. Tava na hora da novela. Mas hoje ela não ligou não.

Sentou no sofá ai a Del sentou do lado.

- Não vai ligar vó?

- Vo não minha filha.

- Porque cansou?

Ai a velha se recostou no sofá, igualmente velho.

- Minha filha eu to sentindo que já to em tempo.

A Del se deita no colo da avó e olha pra cima. E tudo que ela vê é branco. Os olhos estão cheios d’água. Ela fez que não entendeu. Mas entendeu o que a avó queria dizer.

- Sua vó esta cansada sim filha, mas eu to muito feliz viu? Sabe por quê? Porque eu te criei pro mundo minha Del.

As lágrimas quentes escorriam pelo rosto da menina que molhavam a saia que a velha mesma tinha feito.

- Fique triste não, eu já vivi por demais. Já vivi três vidas, já fui eu já fui tua mãe e já fui você. Fique triste não entendeu?

- Tendi. Tendi vó. To com medo vó.

- E quem é que não tem minha filha. Medo todo mundo tem. O que eu já tive foi é medo nessa vida. Mas isso passa. Agorinha mesmo, nunca mais tenho medo.

Então a Del senta e encara a velha.

- Mas a senhora ta sentindo

- O que? A morte?

- é...

Ai a velha fica quieta. Fecha os olhos. A menina prende a respiração. E vê tudo passar diante dos olhos como num filme. Os olhos mesmo fechados, não impedem que as lágrimas saiam. Ela devia estar triste, mas tudo, tudo que ela vê é lindo. Então ela sorri de olhos fechados e chora.

Ela abre os olhos e passa a mão nas rugas da avó. Como sempre fez. A velha não se moveu. Del a abraçou, tão forte, tão forte, que perdeu as forças e dormiu. E com a boca suja de chocolate acordou no outro dia. Completa. Reinventada.

Cheia de alma.

No epitáfio dizia. Aqui jaz Adelaide Silva.

A Del nunca sentiu medo.

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Para não dizer que não falei de flores

Ela chega no bar e procura por alguém, pra conversar, bater papo, prosear. Ela costuma fazer isso enquanto bebe. Mas não vai ao bar para encher a cara, não é uma alcoólatra, inclusive diz que se bares só servissem coca, ela os freqüentaria da mesma maneira, talvez não com a mesma assiduidade. Mas a questão é que, nesse dia comum ela ia comumente a seu bar e pedia uma gelada ao mesmo garçom sentado no banco de sempre. Sophia apóia os cotovelos no balcão semi-molhado e não da importância, vez por outra os secava na calça jeans, mas hoje não, aquela aguinha gelada não a atrapalhava. A Boemia chega e ela esquece da existência do seu cotovelo e de todas as outras partes inúteis de um ser diante de um companheiro deveras mais importante que ele. Agradece ao garçom e elogia o colarinho, apenas pra não perder a casualidade da coisa. Então começa a espera. Quem iria entrar ali, quem iria contá-la histórias de vida, ou quem sabe de morte. Ela ali já ouvira de tudo um pouco. As vezes ria-se tanto que chorava, as vezes chorava tanto que ria da própria cara depois. Mas nunca criara nenhum vínculo com nenhum dos bebuns noturnos que aquele bar recebera. Ela os recebia com a mesma atenção que um vendedor recebe clientes. Ali ela vendia sua articulação, sua boa prosa, sua atenção, até mesmo seus ouvidos, e apenas.
Então nessa terça-feira, entra um homem alto, com uma calça jeans escura já gasta, blusa listrada, chinelos e chaves no bolso da frente. É um homem bonito, ela sabe que é, quando olhasse bem de perto percebia os olhos claros, mel, quase verdes. Nariz largo e boca fina.
- Luis?
-Sophia.
E ele se senta três bancos à esquerda. Exatos três, para não deixar duvida de que viera até ali apenas por birra. Ninguém precisa de tanto espaço, quisesse espaço pulava um ou dois. Mas não três, três ele queria distancia, mas se quisesse distância de fato teria sentado no último, ali era um lugar estratégico, com certeza passado algum tempo os dois se falariam. Ninguém sentaria no meio. A duvida do outrem seria onde sentar se ao lado dela ou ao lado dele. Este acabaria por decidir-se por algum lugar nas extremidades.
Ela não se conteve quando olhou o livro que o marido abriu ao sentar em seu posto. Riu por três razões, primeiro porque o homem demonstrava não ter qualquer intimidade com o lugar, confundia o bar com uma cafeteria ou coisa parecida, ninguém lê livros num boteco. Segundo porque o livro que ela por vez tentara folhear, mas achou maçante demais então abandonara todas às vezes, chamava-se “o homem que calculava”, terceiro porque ela não conseguira pensar em mais nada para rir do jovem marido, e essa se tornava uma terceira e ultima questão, sim. Três. Ela calculara. E ria.
Luis pediu um café. O copo de café do boteco quase que um octógono, de vidro já escuro de tantos cafés que recebe por dia, ele pensou então nas tantas bocas. E teve nojo. Bebeu um gole doido. Bebeu e não achou tão mal assim. Tinha sono.
Resolveu falar. Não! De jeito nenhum, não vou dar o braço a torcer, ela que venha.
-O que é o casamento Luis? É uma instituição ridícula!
- Ah, quer dizer então que resolveu falar comigo? Ridícula Sophia... é a maneira como você resolve os seus problemas.
- Quer saber, você hoje não é meu marido, hoje você é alguém que veio ao bar, ou melhor, hoje eu sou alguém que vim a este bar, hoje eu falo e você ouve, mas ouça e não me interrompa. Escute o que eu tenho a dizer como um estranho.
- Eu já penso o que penso.
- Por favor. Você precisa saber... saber de mim, do que eu sei.
- ta Sophia...

Os dois respiram fundo. O garçom sorri diante da cena, acha graça nesses casais modernos.
Então ela levanta do banco, vai até a porta a abre com rapidez e sai. Luis incrédulo. Passaram-se sei lá... Cinco minutos, ela não pode ter ido embora, não ela não faria isso, não seria capaz. Pede uma vodka, ok... cachaça, que merda.
Ai então ela entra cabelos presos num rabo de cavalo que incomoda a nuca, um vestido azul marinho um all star sujo, cigarros na boca semi fechada e chaves na mão, abre a porta lentamente, como se fosse uma outra pessoa. Bancando a sublime, como ela mesma dizia.
Ele se vira e acompanha o andar da mulher, que é lento, mas não vagaroso. Ela toma um gole da cachaça e sorri. Senta-se no mesmo banco de antes.
- Boa noite. -Sophia ao garçom
- Boa noite – responde Luis
- Posso me sentar? – ela aponta o banco ao lado dele
- Pois não...

- Sabe Luis, vamos supor que eu já sei seu nome ta? Sabe o casamento é uma instituição ridícula. Olha eu sou uma mulher muito bem resolvida, eu não pensava em me casar. Eu não ia, até que encontrei esse cara, sabe...
Foi há mais ou menos quatro anos atrás,“Quatro anos e meio”,eu tava na Lapa num bar,acho que eu nunca te contei isso, nunca mesmo, então... eu tava cansada de todos ali, já não agüentava aquele pessoal chato, um bando de artistas duros querendo dar uma de bacana, eu era mais uma admito, mas não sei, tudo conspirava pra eu não ficar ali. Eram umas dez e meia onze horas, peguei um ônibus pra casa. Eu não ia pra casa, queria dormir em qualquer outro lugar, mas ninguém ia me agüentar naquele dia, só minha mãe, sabe... aqueles meus dias... então.
Botafogo. O ônibus parou num ponto que não era o meu, mas eu resolvi descer, o troço deu uma freada que me lembro de ter caído em cima de um homem sentado perto da escada, vergonhoso! Andei até aquele bar, lá estava você. Ele. Cheio de amigos e com uma mulher no pescoço. Eu nunca tive escrúpulos, e não estava bêbada, mas nisso “ele” nunca vai acreditar. Eu parei diante da mesa. As mesas ficavam assim na calçada não sei se você lembra... “Lembro”. Então, eu pensei que se eu não fizesse aquilo, talvez não tivesse nenhuma história de amor pra contar aos filhos que não sei se terei, se eu não fizesse o que fiz eu não sei, eu sou uma artista, eu seria uma outra pessoa, alguém que segue algo porque é certo, mas eu não... eu me negava, eu não devo seguir e sigo, eu tenho que seguir você sabe...
Aí eu...
- Espera!
Ela tentou contra argumentar, mas não houve jeito, ele desatou a falar:
- Sabe eu sempre acreditei no casamento.
-porra!
- Eu não sei se você sabe... mas eu fui a um bar em botafogo há um tempo atrás e, bem... fomos eu Cláudio, Rafael, as respectivas namoradas e minha noiva...
- O quê?!
- Noiva, como é mesmo seu nome? Sophia não? Pois bem Sophia... eu estava noivo. Luiza, ela também fazia arquitetura. Namoramos uns cinco anos e estávamos noivos há... sei lá, um mês ou coisa parecida.
A noite daquele dezembro era deliciosa.
- Eu lembro do céu, e você?
- Lembro, claro.
-Laranja – os dois falaram juntos e riram.
- Até que me chega uma menina, com seus dezoito, no máximo dezenove anos. Que eu não percebia, lembro que não te olhei, tava fazendo uma conta, resolvendo um problema da prova. “não acredito que lembra disso”. Não tem importância, eu só a percebi, porque a Lu.
- Lu?
- A noiva. Perguntou se eu a conhecia. Eu respondi que não.
- Ta, minha vez. Eu tive que parar na frente daquele cara. Eu juro, fiquei sem ação. Eu não queria saber se era noivo ou não. “que bom”.
-Quieto! Eu não tava nem aí pra quem ele era ou o que ele fazia. E se os amigos riam de mim. Eu...
- Aí a Lu disse. Me lembro como se fosse hoje. Quem é essa louca? Não sei. Não sei já disse.
- ai eu disse, me chamo Sophia. E querem saber, não, vocês não me conhecem, e sim, eu posso estar louca. Mas eu acabei de me apaixonar por você. E... eu não posso ir pra casa e não te dizer isso. Não seria justo, sabe quantas vezes eu já me apaixonei na vida? Eu também não. Porque acho que nunca aconteceu. Mas eu sei, eu sei que hoje...
- O que eu fiz depois? Não me lembro.
- Você apoiou os cotovelos na mesa, bem assim, como ta agora.
-Lembro, lembrei. Qual é mesmo o seu nome? Você tava com os olhos cheios d’água sabia? “uhum”. Ai não sei o que me deu eu fui até você. Eu te abracei né?
- Você já me amava ali?
- Não. Mas acho que eu já sabia.
- Como?
- Como você soube.
- Quando aquele cara me abraçava, eu ficava perdida.Eu não sabia o que dizer.Eu sempre sei o que dizer. Não entendia. As palavras ficavam presas na garganta de tal forma.
- Sabe o que você disse pra mim Sophi, naquela hora? Você disse obrigada.
- Nem eu lembrava disso.
- Porque você saiu andando depois?
- E porque você voltou pra mesa? Porque não veio atrás de mim? Taí o seu problema Luis você nunca ousou. Eu te esperei tanto. Fiquei uns dez minutos sentada na calçada ali da Voluntários.
- Eu sei, eu te vi.
- Como me viu?
- Daí eu dispensei o pessoal disse que, po sei lá o que eu disse, mas eu fui caminhando pra lá sozinho, não fui?
- E a Lu?Você não disse nada a ela?
- Não... ela passou pro turno da noite da faculdade naquela semana, nunca mais nos falamos.
- Canalha!
- Por você.
- Canalha ué, uma coisa não anula a outra. Nunca mais a viu? - Sophia acendeu outro cigarro.
- Uma vez no Leblon, ela tava com uma criança. Sorri pra ela, ela fez que não viu.
- Tudo bem.
Entra um velho no bar, bem velho, a cabeça toda branca, um senhor magro, não sentou no balcão, mas numa mesa distante, quando passou por ela deu um sorriso de familiaridade, ela retribuiu.
- Conhecido?
-Nunca o vi.
O garçom vai atendê-lo. E não que ele estivesse interferindo, mas ela se sente melhor pra dizer.
- O que que faz a gente ser assim, não a gente em especial. Todos. Todos os casais. Porque não podemos? Porque não somos ainda.
- Porque é assim.
- Porque?- Sophia pergunta num tom sem paz, nada comum.
- Porque eu vou pro trabalho e você pro estágio. Porque eu vou pro Tênis e você pro supermercado. Porque eu ligo pra empresa e você pra Clarice. Porque não somos mais novos. Perdemos muito tempo.
Ela chora.
- Eu pensei que ...
- Pensou o que?- Luis interrompe- Que com você seria diferente? Sophia, você não é a única mulher mundial. O seu mundo não é diferente do meu. E se meu mundo não gira ao redor do seu umbigo, alguma hora você teria que descobrir isso. Já chega de ser a artista, cresça!
- Pensei que você me amasse.
- Te amar cansa. - Luis tira o cigarro dos lábios dela com raiva, amassa com o chinelo e a encara.
O garçom volta e nenhum dos dois sequer desvia o olhar.Ela então tira uma nota do bolso, bota no balcão, e sai do bar. Corre, corre, anda an-da, e se senta na esquina.
Luis pega a nota molhada enfia na carteira e, procura uma parte seca no balcão e deixa uma nova nota ali. Anda, anda, anda, até a esquina. Se senta ao lado de Sophia. Passa a mão nos cabelos dela, e com o dedo contorna a sobrancelha e depois o nariz, a boca, e a beija.
-Me cansa, mas não dá pra evitar.
- Você demorou. - Ela diz em meio a soluços.
- Eu a reencontrei há duas semanas atrás, conversam muito, ela está casada morando no Leblon e tem uma filha linda. Eu a beijei. Pedi perdão. Disse que era uma mulher incrível e que tinha me feito muito bem.
Sophia continuou com a mesma expressão de espera, serena.
- Então repeti a ela uma frase da noite laranja, antes de te encontrar na esquina. “Perdão Lu, é inevitável.”
Ele a levanta, a abraça e diz baixinho “obrigada”.

Peter

Você um dia vai crescer meu filho
E você vai ser muito feliz
Feliz como numa receita de bolo
Você vai crescer e vai ter um bom emprego
Você vai ser gerente bancário
Não meu filho... astronauta você não vai ser
Você vai crescer e ter uma casa linda
As rachaduras não vão aparecer, só se você procurar
Você vai crescer e ser homem
Ter um carrão, já pensou? Um carrão?
Vai crescer e ter muitos amigos, um montão
Não querido... os nossos amigos não dormem na nossa casa todas as sextas quando nós crescemos.
Você vai crescer filhinho e vai ter uma mulher
Até lá querido você já esqueceu a Nanda
Vai ter um saco cheio de dinheiro no banco
Ai você já não vai querer comprar brinquedos filho
Um dia você vai crescer meu filho e vai ver como é
Eu sou... já sou adulta querido
Se eu sou feliz?

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Ser por não ser e querer

Sabe dessas mulheres
Sou dessas.
Eu sou dessas que fumam porque faz ser chique
Sou daquelas que se vestem pra ter atenção. Não de um, daquele, nem daquelas.
Quero a atenção alheia. Eu sou a atenção alheia.
Sabe aquelas fingidas.
As tais incoerentes que se fazem entender.
Eu sou aquela que inventa, a que cria uma mutante metamórfica sem um tostão no bolso.
Sabe aquelas generosas e as over sabe?
Sou delas!
As mulheres reacionárias. Opa! Mulher burocrática estamos aí.
Sabe, é isso, banco a putinha criteriosa.
E quem me banca?
As mulheres independentes e fantasiosas. E as que mentem sobre independência.
E as comunistas por discurso, sabe-as? Sou também dondoca capitalista
Aquelas cheias de verdades universais e transitórias.
Mulher-gato, Mulher-cachorra, Mulher-fraca, Mulher-linda, Mulher-nua, Mulher-lua.
Por trás das escamas, dentro das entranhas, junto com a lama nas veias, dentro do fedor do suor e do bolo de cérebro sou o esboço da perfeição.
Sou o mundo real de mim.
Sou essa mulher, que não sei quem ser, porque não sabes quem sou.