domingo, 21 de dezembro de 2008

vaga

Ao menos um vaga-lume, que soubesse quando reluzir.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Cimento

Começou assim com uma vontade de engelhar os dedos na terra, pra me sujar de uma cor borrada, deitada no chão seco de lágrimas. Sinto um vazio, ou aquela máquina do buraco negro, ou um falatório, uma grande coisa que não tenho medo. O fim do mundo já sou.
E não quero mais nada. Porque a porra do médio me estraga, me persegue, me ingrata e não mais me liberta. Essa iminência de fatos. Do imaginário, os doutores, as bailarinas, os poetas, as atrizes e os amores. Os meus amores não dão mais um pio. Veio um corvo e ficou parado não porque queria, mas porque quis. Então preparei minhas penas, enfeitei-me com flores, e voei lá no nunca. O doutor disse que foi falta de descanso, é que inflei muito para tão pouco tempo no poleiro, ai pronto... Bati no chão em desmaio. Agora eu nunca mais.
Não sei dizer o que é perder uma coisa que era dom. Não sei dizer uma coisa que era dom. Não dizer era dom. Não era dom. E de novo. Não. Umas coisas suprimidas, umas coisas assim sem liga, umas coisas burras, complexas. O que é que há comigo? A desculpa por existir agora é o tempo? Quando?
Da chaleira a água ferveu tanto que evaporou. Uso roupas leves. Não me assumi vapor ainda, eu não nasci vapor. Quero ser concreta enferrujada e imunda. Vapor não. No ar outro pretexto por estar misturada e insípida. Até terra ser. Não, terra não. Uma até lambida áspera no cimento.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Ainda

Foi como olhar o passado do alto. O veludo das peles nossas já não eram quentinhos. As reminiscências por mim contadas me eram alheias. E as nossas saudades, hoje, me são saudosas. Parece uma grande ausência do grande amor. Posso lembrar à tarde, quando a chuva surpreendeu os panos leves da tua blusa e apertou-me o nó que não era gravata. Nem vermelha ficaste, pelo contrário teus olhos migraram aos meus implorando desejos, e eram eles tantos. Os primeiros beijos, os primeiros cantos. Era mesmo a idade acentuando o romance.
Com o tempo permitem-se os proibidos, o corpo dorme ao lado, querendo mesmo o sono, os beijos pouco molhados desmancham,tem fim, e os telefonemas, ah... os telefonemas antes tão teus, tão por mim esperados, hoje formais lembram telegramas, também nosso sexo as sextas. Por isso quando me vieram perguntar, titubeei no porquê. Sem saber de fato, o motivo da incerteza, a resposta agora me é cristalina. Eu entendo o nosso amor. É isso. Não é a frase apaixonada, do amor singular, um quase enigma que os donos, e apenas eles compreendem, não. Para o nosso, tem tese e tudo, tem as fotos, a matemática. O problema dele é a razão. Eu e você perdemos a paixão por aí. Não é um ritual, não é uma bula, não é chato, não é fácil, não é vazio, é só o tempo, é só saber aonde vai dar. Ai o “mas porque você se apaixonou por ela, sabe, num primeiro momento, por quê?”, ai isso fica assim... Tristonho, antigo. Tento aqui feito algum romântico ficar recuperando aquelas nossas coisas. Fico aqui contando as nossas coisas para pessoas ou coisas, até as nossas coisinhas eu contei, arrancando-lhes risadas, não era aquela tua, embora você risse também. Eu e meu papo de aleijado. Queria que nosso amor ainda pudesse caminhar.

Será que eles entendem? Será que tu me entendes, ou ainda me espera as seis?

Do restaurante até a cama, só um casal, depois quieto, eu te amo. Embora ainda.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Vale o quanto pesa

Na coreografia de andar até ali não me agüento. O que não é corpo se diz alma e procura entornar, pra cima, no longe. Os ouvidos estão sensíveis às vanguardas que hão por vir, mas a boca cala. E pior, pelo que se diz virtude, a mão repete. Logo eu, que aprendi com os pés no fundo, nem sei por que agora o chão arde. As mesmas cavidades, os mesmos pés, os mesmos pais. E, ainda da maçã nem a lagarta, tampouco o bicho que dela vira. Não. Talvez seja o defeitozinho na casca, que acaba indo para o mesmo saco por um e noventa e nove. A quase extinta e inútil moeda de um centavo, que inveja.

sábado, 6 de dezembro de 2008

Umbigo

Nem se quisesse existiria, não é ficcional porque não pode ser. Tenho uma ânsia de arte hoje. Não só hoje claro, mas é hoje que grita. O falatório em primeira pessoa nos espelhos deixa de ser um hábito, para ser entrevista. A melhor entrevista não televisionada aconteceu hoje, ninguém piscou, nem fez xixi, nem largou de mão, eu poderia ouvir os telefones amigos tocando de orgulho “Olha só pra ela”. Diriam que estive linda, e que pude discorrer sobre todos os assuntos em pauta, teria me saído muito bem numa mesa redonda, não qualquer, uma com meus grandes ídolos, pessoas preenchidas de baunilha, pessoas que, dessa vez, não me acarretaram nenhum rubor, pelo contrario apaixonaram-se. Abriram suas casas, abriram suas Urcas, ofereceram-me uvas sem caroço, deitamo-nos em tapetes, e juntos de olhos fechados pensamos o universo. Descobrimos o céu. Alguns choraram, outros riram, uns cantaram, outros escreveram, eu só sujei os cotovelos pendendo a cabeça pra trás, os fios no chão feito balanço de rede, pensei baixinho um pensamento raso, desses feijão com arroz. A barriga roncava, não é coisa pouca. Pensei por ver. Houve então um tipo de osmose conjunta, uma sinfonia de morcegos, que toda a gente que ali estava, que todo o então mundo sentiu. Como a letra de uma canção antiga que só depois que o canto cansa se descobre o que diz. É feito a repaixão. O fim do coma. Adoçante de solidão. Redondo universo. Meu umbigo.
Sentimos por completo, eu e meus heróis, a ventura de sermos únicos.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Por dentro do meu gesso os poros claustrofóbicos desfuncionam. Não é a sensação de completo, nem de ápice. É uma oca e gorda. Para deixarem de entender. Para deixarem a secretária eletrônica, ouvir tua voz ecoada vazia. Pra sentir uma vontade que não me perfura. Um poder-ser aprendiz. Tudo está tão completo de tudo, nem pressinto lágrimas. O beco está lotado de pisca-piscas, tanto, que nele só cabemos, eu e o quentinho das luzes aquecendo a capa, seria verão. Se da mente esgotada brotam imagens, as gero desabafadas, lustrosas, vãs. A burrice desconhece o medo. Eu sou a sombra sem ême.
Os meninos tão completos apertam os botões coloridos do controle da tela, tudo em volta a ela atenta, tudo em volta de espectadores e eu. Que os olho aos berros, olhando a dança dos corpos comprimidos no sofá velho. Como quando o filme esbraveja e depois só imagem e silêncio, se possível os assistiria num filme mudo. E alugaria sempre, bobeasse o compraria. E boquiaberta como fiquei, sempre novamente. Eles, meu videogame.
Outro dia, não me preparei nem nada para ver a velha assim no metrô. É chata, a velha vaga no vagão. Sem ser ambíguo porque estava lotado. Ao lado dela, não lembro se vi gente, mas devo ter visto. A velha ao invés de ser feia ou linda era gente, ela ao invés de ser moça ou velha era gente, também ao invés de ser feliz ou triste. A quantidade de mundo que por ali passou nem desconfiou, não parou pra ver. Só eu, novamente, alugaria este filme. Chega a ser engraçada a velha de rosto em moldura, não muda. Ela, uma velha, imagem.
Nesse, a parede me impedia de ver tudo. Metade da tela em branco e a outra em flash, era a luz da Xerox aberta, com seu condutor e três ávidos, uma gorda, uma outra e um amigo. Falavam de tudo que possa não interessar. O homem ás vezes clareado, tomou vacina de sorriso, abrir a boca só para o troco. No filme, a luz do teto estaria apagada, para ser pisca-pisca e sentir-me em casa. Esse eu talvez só alugasse. Eles, umas cópias.

E só.