domingo, 6 de julho de 2008

As tolas definições

É por isso que na tua selva, cujo chão espeta, estamos voando, talvez daí nasça o anseio de ser único, que não último. O único recorta o todo, o todo não-nosso é extinto, quando me tens nos braços. Quando nossa aurora proibida e preguiçosa nos traz ao mundo das cores, essas que suscitam as mais diversas reações. Quânticas, quantas, cantadas pelos cantos, clichês, incomuns, contrárias e carentes. Carentes de sei lá o que. Carente... Intransitivo.
E como sabes suprir no encontro das órbitas, com o teu bem dizer bem dito. No teu compreender ríspido, não te atentas das minhas bobagens predicativas, pareces um tolo dentro da tua pele a elogiar meus músculos e beijar-me a boca. Entretanto, o microscópio ainda está na caixa, agora não tem mais jeito, perdi a nota fiscal.
De saldo, fizeste-me um melhor poeta.
De saldo, deste-me o prazer da lava ao coração empedrado.
De saldo, arquivei todos os meus tantos planos em prol de não fazer nada.
Um nada que é tudo e não a ausência dele.


(Também, não me predisponho, a perder as noites que contabilizo insone, contabilizando um saldo não meu. Isso seria só adivinhar, só racionalizar o tudo, o nada, numa escala injusta. Minha escala é injusta. O saldo que ela (aquela ridícula que se remete a si mesma na terceira pessoa) resulta nele. Utópico. Eu nem penso, mesmo, nisso. Pois assim, ofereço-lhe (meu) tudo. E o resultado passa de predisposição à escolha.)

terça-feira, 1 de julho de 2008

No ar

Ai como a vida é dura não é mesmo? Só por termos nascido um. E um somente. Pudera eu ter nascido seu siamês, seriamos felizes. Afinal de contas, o amor de entes é algo sem explicação, e basicamente, tudo que tenho feitos há dias é tentar entender. Saber de fato, dissecar esse amor recoberto de mim. Chegando àquelas conclusões tão óbvias que merecem vida, amar não é igual e amar dói. Auto-explicação nos olhos dele quando fitam os dela, sem graça na noite escura. Seus olhos pedem amor. Difícil, tão menos difícil, quando só os olhos, estes sim em pares, sem respaldo daqueles, amornam. Eis que chega a solidão que te rouba a atmosfera. sabe o que a solidão carrega na mochila? Ar. Todo ele. E ficamos magros. O amor dá fome.

Insegurança é o que sentimos, nós os tudo. Já que aqueles processuais têm uma calma etária bem velha. Se morder sai coca? Não, saem dúvidas, muitas delas, asfixiadas aqui dentro. E são até mesmo injustificáveis, quando não infantis, mas pergunta amigo, pergunta mesmo sem resposta. Já não queremos elucidá-las, queremos só nutri-las de ar, para crescerem e nunca morrerem, só com o fim este infeliz. Quando no reencontro permanecerem bem quietinhas e serenas nos poros, você disfarça com o sorriso, e esquece-se dos olhos, óbvio.

Eu te amo é assim, óbvio, chato, difícil, doído, infeliz e um, um só, até o fim.

Rouquidão

Só enquanto eu puder dizer. Dizer tudo que pudesse ser dito, sem me privar dos apostos intermináveis. Dizer só por tentar fazer-me entender. Querer ser entendida. Eu sei que é pouco, só que é tudo perspectiva. Todo o meu objetivo é ser entendida, vai ver que é isso. Onde brota a fonte da prolixidade, eu tenho sede. Por ainda arder uma necessidade de soltar os cabelos, mesmo gostando pouco, só pra gastar meus grampos nas fechaduras das portas. Eu não vejo quase nada de portas semi-abertas. E não me apetecem as escancaradas, prefiro então permanecer belíssima, e penteada. Também há mais além da fala continua e ininterrupta, não é só um bolo de roupas sujas. Há um medo do silêncio, embora paradoxal sendo assim revelado. Tenho medo do que sussurro, mas o faço pois meus ouvidos podem estar cansados e deixe que os outros pares passem apressados pela cidade. Ninguém tem tempo pra essas bobagens. Ninguém tem tempo pra especulações. É tudo tão pragmático, tão cheio de regras. Talvez eu tenha Fanta laranja nas veias, eu não gosto de Fanta laranja, não gosto do gosto, porque não é completamente doce, porque é totalmente saciável, porque perde facilmente o gás. Só a cor mesmo, cor de laranja. Eu adoraria mostrar meu avesso. Adoraria a conquista verídica. Adoraria emprestar-lhes meus olhos. Adoraria se tecêssemos planos. Adoraria que todos dissessem, mas aí perdia a graça... a minha até. Às vezes queria aceitar indiferente, todos os predicados a mim atribuídos. Às vezes queria passear, só passear. Às vezes, confesso, me acho boa demais, às vezes péssima, por não fazer nada de bom com isso. Mas lembro que faço, e não tampouco, digo. Embora carente de charme, inflado de vontade e sem pedir licença, em meio a linhas e linhas de prosa (ou monólogo, tanto faz, não tanto faz, mas pra ser concisa tanto faz), eu diga ou sussurre ou grite ou trema ou sue esse sentimento meu, assim, sem nome.

segunda-feira, 30 de junho de 2008

(...) Quanto?

Tanto que no banho os dedos engelham e a água quente tenta, mas não lembra teu toque. Tanto que a madrugada de quinta ainda não é sexta. Tanto que narraria teu diário. Tanto que me vicío num só tema. Tanto e tantos rostos bonitos e tão só bonitos. Tanto que agora tenho olhos verdes esperançosos. Tanto quanto os teus ainda existam. Tanto que te pressinto, muito, até ser exaustivo (como isso). Tanto até você achar que é para você. Tanto que pode até ser. Tudo. Que mesmo tua pergunta fica subentendida e digo exatamente o que podes ouvir.

sexta-feira, 27 de junho de 2008

Ao cara que reluz

Não precisa nem rir sem graça. Pode acreditar que é teu, sem medo. É como um beijo que jogo no ar. É como um cosmos que nos aceita, e me faz redigir como se já estivesse tudo ali. E um primeiro interesse que só serviu de pavimentação pro nosso país, que é grande pra burro, nem é país, é o mundo, somos Saturno!

Admita, meu grande amigo, que nos perderemos de vista um dia desses, nesses enlaces, e sorria quando tentar dizer toda a verdade, toda ela, como um legado de coisa pouca que quis te deixar. Permita que as lágrimas amornem os olhos e saúde a maravilha das derrotas conquistadas, e das póstumas, e de todas que ainda estão por vir, camarada, isso que é viver.

De resto, vamos levando, tudo que é meu é seu, tudo que produzo, quer pequeno, quer grande, tem teu fragmento ou muitos deles. Feito isso aqui.

Se vieste grande, foi pra caber tanto coração.

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Festa de São João

De repente fechei os olhos de frio, e quando abri tinha as meias vermelhas nos pés, suaves feito Nat King Cole. Subi tão alto quanto dancei, foi então comigo no meio, e todos os medos em volta de mãos dadas e pés aquecendo a ciranda do jazz. Nem fico irritada, não é incrível? Era bastante escuro, assim que se fecham os olhos e ainda tem lampejos claros, então, o depois. Aí o mato cresceu ao redor, ao redor, ao redor, o mato cresceu ao redor ao re-dor, chorei por saudades, ela não quis entrar na roda porque não tinha saia, mas ai ficou ali, olhando meio de lado, como quem nada quer a vi pegar na mão do medo vestido de barata e do vestido de desamor, abrindo um sorriso; Pro que é que a saudade sorri mesmo?

Bonito é ver tudo girando! Mordi um pedaço de palavra, tem gosto de cigana, não vi que destino teve. Só vi que serviu pra mim e Fernando Pessoa. Pra que parafrasear, assim tão de cara? Deixa que as palavras se amoldam em fila e formam um corrimão pra escorregar com cuidado de saber quando. Pra poder até quem sabe, descomparar. Pra poder ser bonito mesmo sem ser. Bonito é ver tudo girando, aí sim: é Fernando, é dançando, é ciranda até não parar mais. Naqueles ressonos, de quem se engasga com o ronco, eu acordo e caio de cara no matagal, e vou rolando morro abaixo, e paro lá onde Judas perdeu as meias, mais longe que as botas. E assim, nem ligo de voltar andando, vou comendo o algodão doce do céu. Viva São John (Lennon)!

domingo, 22 de junho de 2008

Não acho

Me sinto culpado. Por vê-la atravessando a rua, sentindo-se feliz. Ela não olha pra tras, ela continua como se não houvesse nada ali, ou como se o que houvesse fosse menos importante do que o que há por vir. Eu sei que não é assim, sei bem. Eu chego a adorá-la indo embora, e chego a comover-me com a cena, e só. Não há mais nada além dos pedidos de telefonema, não há mais nada além da falsa impressão de falta que ela me faz. Na verdade não me interesso pelo seu íntimo, em nada, sob nenhum aspecto, e ela é, acreditem, a mulher mais interessante que possívelmente terei em vida. Ouço tudo o que ela tem a dizer, tudo, sorrio das desventuras, chego a chorar com o que é triste, adoro seu quê de tristeza, mas não quero saber mais, não pergunto nada a mais, nem quero saber se os azulejos do banheiro eram azuis ou marfim se ela me diz que era um banheiro claro. Espero que ela pense essa falta de curiosidade como uma completude de informações, mas não, a quem quero enganar? A menina também tem uma sensibilidade assustadora, entende tudo, e eu sim, fico a bancar o misterioso, como um homem encantador de meias palavras. Ela como uma Amélia pós-moderna, entende, sem cobrar, entende mesmo, nem isso me suscita saudade, nem isso me derrete o coração, nem isso a torna inesquecível pela manhã e pelas noites insones, nem isso me enciuma os amigos, isso não a torna necessária. Viver com ela seria maravilhoso, talvez durasse para sempre, talvez fosse divertido, talvez fosse okey, okey e morno. Há culpa. Sou capaz de torná-la desejável numa caracterização desprovida de mentiras (isso dói),a indicaria a qualquer grande amigo, e preocuparia-me e de repente desse jeito ela ouvisse todas as almejadas perguntas de alguém que de fato a ama: eu, mas aí já não seria importante, e essa minha prova de amor seria falha. Por isso insisto, pra entender dessa coisa que alguns dizem que vem com a convivência, dessa coisa progressiva, crescente. Quero entender se é possível, só que é mentira, e isso, embora pareça, nem é uma prova de amor.