segunda-feira, 10 de maio de 2010
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Sentamos quatro. Dois de cada gênero. Um: “Os velhos se fuderam, só a ingenuidade é santa”. Da que não entendeu veio um brilho tão intenso, tão intenso, que calou todo mundo num sentimento muito próprio. Meu, confesso, quase satânica, senti foi inveja.
sábado, 27 de março de 2010
Bilhete único
O viço de urbano, não de transito, antes disso, o que pertence ao carro, o transito é grande demais pra mim, ao transito sou eu quem pertenço, ele é todo aquele cosmos em que se está e só, mal dessas coisas que servem pra ir e ir é foda, ir é pré-requisito, vai apenas, então é trânsito, nele sou eu que barulho, mesmo quando surdo. A engrenagem não, engrenagem e tilte, e uns barulhos de fail, isso tudo tá dentro. Porque tá tudo muito vivo, a gente pensa que não, porque é um barulho enlatado, mas se parar pra ouvir, o próprio silêncio não tá limpo. Tá ele lá se mexendo, urbano, viçoso.
O centro é isso. É o transito dos dias, de um monte de gente, de carro, de caixote, de umas comidas, uns cheiros, de ar e condicionado e pingo e prédio, tanto prédio que não dá pra escapar desse trânsito. A rota do cinza só varia numas pinturas de céu, e de uns morros que aparecem em perfeita hidrocor, tão longe e sozinhos que nem sei, será? Eu me distraio nesse pouquinho. Dessa rotina vazia, rotina vazia não, rotina do vazio; quisera meu trânsito cantar sem precisar ser ouvido.
O centro é isso. É o transito dos dias, de um monte de gente, de carro, de caixote, de umas comidas, uns cheiros, de ar e condicionado e pingo e prédio, tanto prédio que não dá pra escapar desse trânsito. A rota do cinza só varia numas pinturas de céu, e de uns morros que aparecem em perfeita hidrocor, tão longe e sozinhos que nem sei, será? Eu me distraio nesse pouquinho. Dessa rotina vazia, rotina vazia não, rotina do vazio; quisera meu trânsito cantar sem precisar ser ouvido.
sábado, 6 de março de 2010
Tá vivo
Agora é sério.
Eu quero ver aqui quem ganha.
Nem quero ver o suor no palco, porque cansa, e eu não sou de palco.
Nem quero ver um filete de choro, porque dói, e eu não dôo pouco.
Na verdade, eu digo que quero ver, mas não.
Eu quero é tocar. Tocar em tudo.
Pra essa ventania que tá aqui, fechada, dar vazão.
Eu quero ver aqui quem ganha.
Nem quero ver o suor no palco, porque cansa, e eu não sou de palco.
Nem quero ver um filete de choro, porque dói, e eu não dôo pouco.
Na verdade, eu digo que quero ver, mas não.
Eu quero é tocar. Tocar em tudo.
Pra essa ventania que tá aqui, fechada, dar vazão.
segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010
Vigia
É por abstinência produtiva que escrevo sobre este homem, que fica atrás da sobra e ali se excede ao despercebido. Por tratar de uma obviedade tão do jeito que coisas originalmente óbvias são, como que porque sim.
Acontece que dentro do que me falta está toda uma grande curiosidade,para então, um sentimento muito próprio de formigas e bichinhos curtos, desses que olham, e param quase que burros diante de tamanha... e mudos. E ficam tão intensamente pouco, até o limite do tédio e a continuidade de suas vidinhas. Uma espécie nossa de curiosidade contemplativa, me luziu desse moço. Já que sua interessancia não deve ser menos que rasa, e não porque sua cabeça não seja absolutamente relevante, apenas por ser esta tão misteriosamente trancafiada, que tanto eu quanto ele seriamos igualmente estranhos ao que se passa lá dentro. Portanto, no raso do que se pode ver foi o quanto compreentendi.
É um boné azul velho sobre a cabeleira branca e um rosto escurecido, não escuro, não amargo,não muito; de rugas cimentadas de tão vivas que são, mas isso por debaixo da barba também branca até o colarinho, que não sente calor, a blusa de manga ou mesmo casaco, mesmo dezembro e chinelos. Na verdade sua figura carece de um cachorro, como poucas outras carecem,é de enxergar ao seu lado o vira-lata cinza, com o pêlo de quem não secou a chuva e barriga de quem divide o que há daquilo que haja.
Perambulam os dois no sopé da ladeira em que moro. Na verdade, vigilante ele não é, porque no fim da rua a igrejinha faz com que embora seja, a rua não seja sem saída. É ela a razão da muita gente que passa por aqui sem morar, muita gente que carece de um vigia que não resida embaixo. Embora o velho não more na casinha sem cancela. A casinha é só um posto simbólico de segurança, já que tudo é, o homem se encarrega de proteger quando quer, sem lucro, prejuízo, e rotina lógica, inúmeras vezes ele faltou, ou desistiu de ir, chega atrasado ou sai mais cedo do horário normal que se quer. Ele e ele mesmo resolvem, e não sei, mas o consenso não me parece pacífico, às vezes, me parece que ele está nessa porque... por alguma razão que descubro e na mesma hora tranco.
Então passo de fininho ali pra não incomodar, mas ele grita de lá um bom dia rabugento, rabugento não, ressentido, mesmo; só que às vezes, também, quando sou eu quem grita, por pensar que talvez o que exista não seja enfim tão mistério, por pisar nas formigas sem querer, porque Eu sou grande; não que ele finja, simplesmente esse homem não me vê.
Acontece que dentro do que me falta está toda uma grande curiosidade,para então, um sentimento muito próprio de formigas e bichinhos curtos, desses que olham, e param quase que burros diante de tamanha... e mudos. E ficam tão intensamente pouco, até o limite do tédio e a continuidade de suas vidinhas. Uma espécie nossa de curiosidade contemplativa, me luziu desse moço. Já que sua interessancia não deve ser menos que rasa, e não porque sua cabeça não seja absolutamente relevante, apenas por ser esta tão misteriosamente trancafiada, que tanto eu quanto ele seriamos igualmente estranhos ao que se passa lá dentro. Portanto, no raso do que se pode ver foi o quanto compreentendi.
É um boné azul velho sobre a cabeleira branca e um rosto escurecido, não escuro, não amargo,não muito; de rugas cimentadas de tão vivas que são, mas isso por debaixo da barba também branca até o colarinho, que não sente calor, a blusa de manga ou mesmo casaco, mesmo dezembro e chinelos. Na verdade sua figura carece de um cachorro, como poucas outras carecem,é de enxergar ao seu lado o vira-lata cinza, com o pêlo de quem não secou a chuva e barriga de quem divide o que há daquilo que haja.
Perambulam os dois no sopé da ladeira em que moro. Na verdade, vigilante ele não é, porque no fim da rua a igrejinha faz com que embora seja, a rua não seja sem saída. É ela a razão da muita gente que passa por aqui sem morar, muita gente que carece de um vigia que não resida embaixo. Embora o velho não more na casinha sem cancela. A casinha é só um posto simbólico de segurança, já que tudo é, o homem se encarrega de proteger quando quer, sem lucro, prejuízo, e rotina lógica, inúmeras vezes ele faltou, ou desistiu de ir, chega atrasado ou sai mais cedo do horário normal que se quer. Ele e ele mesmo resolvem, e não sei, mas o consenso não me parece pacífico, às vezes, me parece que ele está nessa porque... por alguma razão que descubro e na mesma hora tranco.
Então passo de fininho ali pra não incomodar, mas ele grita de lá um bom dia rabugento, rabugento não, ressentido, mesmo; só que às vezes, também, quando sou eu quem grita, por pensar que talvez o que exista não seja enfim tão mistério, por pisar nas formigas sem querer, porque Eu sou grande; não que ele finja, simplesmente esse homem não me vê.
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