Quando a Copacabana apaga e o calçadão desincha é que ela vai. Anda só no branco, perde as contas das pedras cinzas. Se pisar nas pretas morre. Morrer é cinza tanto faz, mesmo vestida de branco que é ano novo, e ela antiga perdeu o rumo, esqueceu onde mora, esqueceu se mora, esqueceu seu rosto. Divide o Rio com os donos da rua, os vendedores ambulantes e as putas de folga. Jamais entendeu o espírito hipócrita educado de gente em dias festivos, os sorrisos vem acompanhados de votos de felicidade de gente homogênea. Todos, putas, bandidos, turistas, ricos, pobres, pretos, brancos, de branco, feito anjos, num dia de juízo final. Tendo os rostos amarelos, de fogos chorando de crianças no céu. Esperam a penitencia divina e pulam ondas pra deusas sereias. Enquanto ela senta na rua perdida. A única impura. Querendo deixar toda aquela multidão vermelha, vermelho sangue. Arrancaria os ouvidos e a língua de toda aquela copacabanada. Mas ai o céu torna a escurecer. E tida como bêbada, ela grita feliz dois mil e oito pra mim. Agora toda a gente já é má. Ninguém nem ri, nem sorri, nem olha, nem ninguém. Deixa, já tinha pisado no preto mesmo. Deita na areia imunda e dorme,
segunda-feira, 24 de dezembro de 2007
Feliz ano novo
quinta-feira, 20 de dezembro de 2007
Disfarce
Me botei uma máscara/armadura, transparente e indestrutível, pra enganar não sei a quem, se sei a mim. Quando armado não sou melhor nem pior, sou um infame, que é bem visto por esconder. E não só porque a sociedade é hipócrita, mas também porque a sociedade, sob uma ótica geral visa o bom, então cultua o que e ameno. Ameno pra quem?
Porque eu devo ser forte? Pra que continuar quando dentro sou um dramalhão?
Por baixo está tudo vermelho e sujo de ódio, de tempo perdido, de frustração. De suspeitas vãs, e carne moída, gritos de dor, tristeza má, revolta. Revolta individual, cabelo molhado, visco de ignorância, idiotice, palavrões sujos, cacos de gente, de tumor podre. Em baixo, dentro, profundo, interno é tão obscuro que estou cego.
Então cubro o que é grená com panos mornos e brancos. Pintei um sorriso na máscara, pra sorrir pro tempo que virá, sorrir pro acaso, e sorrir pra vida que bem ou mal escolhi. Estou sorrindo pro destino. Como quem assiste a uma tourada. Sorrindo pro boi, pra lama, pro sangue . Nada
Esta tudo bem, estou bem. É o que eles fingem ouvir quando eu finjo dizer, até onde me cabe um alô sem respostas.
É tudo contagioso, tudo contagioso.
Até que um abraço, não dizendo ao que veio, vindo triste triste triste. Me desprotege.
sábado, 15 de dezembro de 2007
quinta-feira, 6 de dezembro de 2007
Até o fim
Ela há muito andava dizendo que estavam presos no passado. Ele há muito não entendia, ou pretendia não entender.
Ele há muito dizia que eram um casal moderno. E ela... ela há muito já não mais...
Respirar era difícil e não porque o quarto era apertado. O que apertava era o peito. Doía. Uma dor que não dói, lateja.
Uma única lágrima escorre do olho direito dela.
E vem lenta, carregada de frases, palavras, de beijos, de brigas, de amor, vem carregada de fim.
Ele sentado a esquerda, beija o ombro da mulher/menina que segura sua mão até a vitrola e a desliga.
Ela então levanta, vai até a porta, a abre e
- Espera!
Ela se vira, os dois se olham. Ele a viu pela primeira vez. Ela chorando sorri. E vai até o fim.