sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Fim de verões

Eu fico assim, novenando as conchas da praia. Esperando incertezas. Pensando no que foi destinado. Me balançando no vento da rede que acaricia meu pés com o chão. E os cabelos salgados quase que encostam nele. Cabelos que me dão a certeza de flor da idade póstuma. E nenhuma ruga. Tudo que vim fazendo durante décadas foi me mover, muito e para todos os lados. E hoje tudo que quero é chegar lá; aonde os olhos verdes sem esperança, jamais chegaram. Eu nunca pus os olhos em nenhum outro lugar. Não o teria feito, o par é óbvio demais por se esquecer da vida, por isso póstuma. Vim enterrar-me nas areias brancas, esperando encontrar o lá, aqui. Para sempre solidão é o nome desse livro que nunca escrevi e que tenho em mente até a metade, e que é tão grande que não lembro do início, e do monólogo esqueci-me de boa parte do meio, o que estou escrevendo agora é o clímax. Não me surpreendo em narrativa mal dividida. Meu corpo pesa então já deitado, relaxa. Mais um capítulo desnecessário esboçado nas entranhas que vou esquecer, do quê? O mar de tão forte espuma branco, o dia nublado tal qual areia branca. É isso, estou no (meu) céu.

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