terça-feira, 31 de março de 2009
O jorge
O Jorge é melhor equilibrista que eu. Ele bebe da água que arde muita, em questão de copos o pessoal diz que no número tem até zero, eu nunca vi, mas não duvido. Uma vez o Jorge disse que a morte era o caminho mais simples, eu disse que era relativo, porque nuns dias eu achava que sim e noutros não, ele disse que tá. Outro dia também, ele chegou arregalado dizendo que esqueceu que ontem, já era hoje. Depois acalmou. E contou que a abelha era mais esperta que o dono e menos que os filhos. Depois eu perguntei do Nordeste, ele falou da enchente de sol. Depois eu falei do sul, ele disse se era no Brasil. E o Rio? É lindo. Aí eu falei pra sentarmos, pois sim. Ele disse que não mexessem no seu peixe, eu fiz cara de ué, ele contou que o filé era fácil, e que a cabeça era ossuda, eu disse e daí? Daí que o meu é posta. E não tem muita espinha? Não, ele disse, tem muito pão. Olha Jorge, eu disse a ele, tem dessas coisas que você não sabe, não é? Ele calou. Passou, esqueci da pergunta e o caminho foi silencioso, até logos até nossas casas. Amanhã ele chegou rindo falante, cheio, pedi um picolé de chocolate, ele um de coco que tinha pedacinhos. E disse, e você? eu disse, pois é não sei. Você é logo ali, foi o que ele disse. Aonde? Ali. Mas eu não vi aonde era. Ficamos versando sobre a menina que fazia roupas, aí eu perguntei se era verdade o que diziam, ele perguntou se dava pra ver, eu disse que sim, ele escondeu o rosto nas mãos e brotou água por entre os dedos, eu disse que se acalmasse, pois mesmo se ela não quisesse já era bom de sentir. Ele disse como? E eu provei, Olha Jorge eu dizia, é só ver. Pronto, ele concordou, e falou baixinho, você é boa nisso. No jardim, o Jorge falou que não sabia nome de flor, nem eu sabia. Ele disse que Deus era um que tinha chutado o nome das coisas, e tinha acertado. Aí inventamos uns nomes pra porta e cachorro e vizinho acho, mas durou pouco tempo. Ficamos assim nossos encontros para sempre diferentes, acasos. Sabe, ele disse, acho que eu não sei mais tudo. Isso é normal Jorge, depois passa. Fomos à ponta pra ver quem ficava mais tempo equilibrado, ele caiu logo, lá de cima olhei, ele me emprestou um sorriso úmido e sumiu. Sumiu.
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2 comentários:
Aguardo mais. Parou?
E apesar dos comentários bocejantes feitos sobre texto anterior, gostei muito dele. É bem vc. E eu gosto quando é vc. Não comentei lá pra não virar debate da Leda Nagle, mas prossiga. Você sabe o que faz.
Quero emoldurar.
Quero decorar, sei lá, quero pra sempre ler isso. Mais que isso, quero lembrar disso que sinto agora.
Um beijo e obrigada
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