A protagonista deste filme é atriz coadjuvante de um filme lado B qualquer. Ela tem medo e pouca idade, não que os dois tenham qualquer ligação. A menina cansa os calos adiquiridos ao longo de sua breve e quase bidécada andando, e não caminhando, porque ela não tem necessáriamente pressa mas quer chegar. Então anda cansada por aí procurando algo que desmonte a nostalgia em pequenos flocos de incerteza que a façam correr e não caminhar (leia-se futuro).
Pois bem, dentre andanças que nada possuem de únicas quer de especiais, prendo-me numa que chama a atenção. E que tenho minhas dúvidas se farão o mesmo com o senhores, mesmo achando esse diálogo "artista"-interlocutor um tanto demodê para os dias atuais.
Enfim, eis que um dia a menina pega o metrô e desse nas Sans Penha, tinha alguma familiaridade com o lugar, a razão da qual nos é de total irrelevância. Pronto lá esta ela andando num par de tênis sujos apertados, ainda que fosse bastante asseada. Engasgou cantando uma melodia com voz de soprano rouca, bonitinha até.
Andou muito, parou numa pastelaria e não pediu nem pastel nem caldo de cana, cumprimentou os chinas que trabalhavam, os quais foram familiarmente antipáticos.
Tomou um ônibus contando com todo o sexto sentido históricamente atribuido ao gênero e preparou-se para descer no ponto final. Sendo fiel à trama não mencionarei uma cena sequer durante o trajeto, que a menina só fez dormir, minhas especulações indicam que talvez seja pelo cansaço da insônia, talvez pelo ventinho na cara, não sei.
Acordou, pôs-se de pé, amarrou os cadarços e desceu do ônibus. Respirou fundo, numa preparação prévia para a ladeira que teria pela frente, comprovou que o local ali era mais frio do que o normal, nada insuportável, mas sutil, digo comprovou pois a pessoa que esperava encontrar no topo da andança havia dito isso algumas vezes à ela.
Como isso a cansava, ela suava, não pelo trajeto íngrime, mas por so mesma. Pelos erros e acertos com as pessoas. Pois a menina adorava analisar as relações entre as pessoas. O assunto era pauta plena na cabeça descoupada (não por idéias). A casa passo ela percebia a afinidade, a não-cerimônia e a linha larga e fraca que a ligava àlguem. Cada passo nostálgico a lembrava de um tempo no qual essa linha era indestrutível, tempo camuflado pela ausência total, mas não a parcial, essa sim agravante.
Os calos ajudavam o medo e a menina andava depressa pra chegar a casa do amigo, que nunca frequentara e não fazia diferença, estava ali.
Assim, há duas possíveis versões finais para a história e cabe ao espectador atribuir sua devida expectativa a qualquer uma das duas (e em filme B tudo é possível).
Primeira chave de ouro: A menina para, descansa na calçada, em frente a janela da sala do amigo, que surpreendentemente encontra-se naquele cômodo, ela mesmo de costas grita o nome dele, que a convida para entrar e trançar os pequenos fios da corda que incertezamente(palavra que me permito criar) tinham se rompido, e tomam café da manhã falando amenidades.
Segunda chabe de ouro: A menina para em frente a casa outrora convidativa e tem medo de tocar a campainha, de não ter gente em casa, de ter gente em casa, medo do que ele vai dizer quando a vir ali, medo do julgamento inconveniente que fará dela, sendo esse um medo totalmente novo, medo largo e fraco. Caminha então, lentamente, ao ponto final (do ônibus).
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2 comentários:
Vou precisar re-ler esse aqui. Suas insônias a estão deixando por demais críptica, ou meu excesso de dormência está me deixando por demais criativo. Mas o lance é que vi coisa demais (ou coisa alguma, o que dá quase na mesma) nesse seu filme a-B-erto. A narrativa tá uma delicia, mas não sei onde (se) a menina chegou... ou não... ? Você anda escutando Caetano?
esse não é um filme B querida, só tem o charme de um...
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