Ai ela toca a campainha pra avisar que está chegando, mas tem a chave, ele pode continuar no sofá verde. O gato destruiu todo na semana passada, quando a monstruosidade chegou, até que não ficou tão mal. O monstro verde nem era tão confortável, e ele jamais admitiria, mas dependendo do nível de álcool poderia compartilhar o medo com Ernesto, mas suas unhas eram bastante menos afiadas.
Ela entra com o cabelo duro bagunçado.
-You’ve got crazy eyes.
“Não estou pra brincadeira” rebate ela, sentando ao seu lado no verde.
Daí deita a cabeça na perna dele, e chora até conseguir falar que esta apaixonada.
“To apaixonada”
Levanta o rosto. A cena é fácil, mas é complexo descrevê-la; aí vai:
Antes o cabelo black dela esta do meio das pernas dele e a bochecha direita deitada em cima destas, portanto ela pode ver o Ernesto em cima da tevê e não a barriga dele. Depois, levantar o rosto no caso seria deixar de ver o Ernesto e ver o queixo dele com sua barba bem feita, mas também vê pouco porque ele logo olha pra baixo e a visão seria perfeita, mas era sol de Janeiro.
- Quem é? – ele pergunta
- Você não conhece, não é amigo.
Os olhos enchem d’água, ele resolver ver o Ernesto, que mostra compaixão pelo dono, olha para ele, olha, olha, até não o ver, pois a compaixão irracional se esgota e a antena da tevê importa mais.
Ele deixa escorrer uma lágrima, que vai penetrando com dificuldade no ninho cheio de idéias.
- Ô meu amigo, chora não, se não eu choro mais ainda.
- Não é isso Nega, é que...
- Que diabos de sofá é esse? – ela interrompe.
- É novo.
- Mas diz aí que que é então.
- Não é nada não, é só isso mesmo.
Ela seca uma fugitiva, escorrega as mãos nos cabelos loiros, depois volta aos olhos que estão fechados e ela brinca com os cílios.“É loiro até no olho”. Ele não ri. Era pra ela continuar, mas não entendeu. Por fim, dá-lhe um beijo estalado na bochecha, levanta e diz:
- Acho que gosto do verdão.
- É monstro.
Chega menos de trinta centímetros pra trás.
- Acho que não, né Ernesto?
O gato não diz nada.
- A gente não gosta Nega.
- É, a gente não gosta. Vou lá.
Ele ta pronto pra desarmar, com medo da suspeita falida, mais um segundo e poderá respirar os quinze minutos comprimidos. Ela passa da porta, que deixa sempre aberta e lá da janela do elevador ouve-se uma sentença, quase um postulado, totalmente “ilógico” e atemporal.
- O bom é se quando sequer doer, tens tu amanhãs.
Ele então respira vendo a cabeça afundar sem saber se é bom ou ruim.
Sabe-se que sorriu.
terça-feira, 25 de março de 2008
amanhã verde
Assinar:
Postar comentários (Atom)
2 comentários:
Não sei mesmo o que andas tomando. Mas tá mais forte. Esse fiquei eu e o Ernesto sentados na TV, assistindo, pescoço quebrado de lado, como quem tenta captar de outro ângulo o que não entendeu do primeiro.
Meu Deus... cada dia melhor, meu amor, cada dia melhor.E a história do parasita, lembra? Vem! Por que que EU nunca posso ir?
Postar um comentário