No imaginário ainda cálido mora a divina moça que na espera de minha chegada enrubrecia, e nesta propriamente dita, emudecia, tão logo na partida, exaltava-se enraivecida certa de minha desatenção insutil, a desejar seu toque como tantos o fizeram, para mim seria a menina muda, a jovem introvertida, a nenhuma entre outras mil.
Só que esta em seus devaneios não sabe que habita os meus, que seu silêncio enche de mistério o ar que inunda meu corpo ainda curioso, pelo perfume do jardim de claros cabelos presos e a veste que encobre o cru inebriante da tal. Que viesse como fosse em sinfonia, ou só o vento, posto que o pulsante teria, tal qual o pensamento.
Pois com ela os dias não murcharão, as flores não inundarão, a chuva não esfriará, a cama que reluziu, o anel coberto de razão, que sorri ao entregar, pela última vez, sangrado este meu coração.
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Espera
Permitiria que passassem mais três passageiros, quatro, enquanto consultava um relógio um termômetro e enfiava mais umas cinco batatas na boca.Quatro horas e cinqüenta e sete minutos. Trinta e dois graus, provavelmente trinta e cinco que dez por cento é descontado automaticamente nessa maquina estúpida, ao menos foi o que me disse aquele pedinte argentino da Voluntários da Pátria com quem travei alguma amizade durante o carnaval do ano passado. Não tinha mais dinheiro para bebida, dois ou três amigos, alguns berros aleatórios enquanto um deles falava algo sobre a transição que era comum nessas épocas do ano em que abundavam a bebedeira e o tédio, Acabou a vodka, devem ter comentado e não era de se espantar as repetições e verbalizações do tipo ¿não era de se espantar...¿. Ele apareceu pouco depois com uma latinha cheia de moedas na mão, falando com aquele sotaque forçado ,cantando alguma coisa estranha que não soube identificar e oferecendo um pouco do vinho que carregava numa espécie de cantil pendurado nas costas. As peças de roupa que se amontoavam umas sobre as outras , a crosta de sujeira que deixava a pele amarronzada e o cheiro , sim o cheiro, que se não visse aquela barba suja de vinho e o cabelo grudado, as meninas vestidas de freira do outro lado piscavam para mim, mas eu preferi mesmo a companhia do mendigo, preferi receber esmolas de uns turistas holandeses, preferi dançar trégua e catala , preferi catar comida no lixo e dormir debaixo de uma marquise com um cobertor cinza, sem cor, pinicando no meu braço, que se fosse num dia de domingo , ou não , quem dera algo mais. Mas não, não havia nada mais para lembrar, que nessas horas a memória falha, ainda mais se esperamos alguém, ainda mais se esse alguém chega, ainda mais se a batata frita cai no chão e o refrigerante derrama na roupa e o relógio indica cinco horas e um calor de trinta e sete quarenta graus e a buzina chata do ônibus e o suor pingando na testa e a gritaria da rodoviária e as malas jogadas no chão e ..., arfh, cansei, e mais nada. Respira fundo, recupera o ar, abrindo um sorriso meio de canto, com restos de batatas presos ao aparelho, para Laura, Laurinha, que vinha tão bonitinha ,saltitante até o ônibus, e dois beijinhos, abraço, com um lacinho vermelho na cabeça.
- Oi ,menina.
- Oi!- Sorriso bobo - Está esperando há muito tempo?
A vida toda...
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