quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Cimento

Começou assim com uma vontade de engelhar os dedos na terra, pra me sujar de uma cor borrada, deitada no chão seco de lágrimas. Sinto um vazio, ou aquela máquina do buraco negro, ou um falatório, uma grande coisa que não tenho medo. O fim do mundo já sou.
E não quero mais nada. Porque a porra do médio me estraga, me persegue, me ingrata e não mais me liberta. Essa iminência de fatos. Do imaginário, os doutores, as bailarinas, os poetas, as atrizes e os amores. Os meus amores não dão mais um pio. Veio um corvo e ficou parado não porque queria, mas porque quis. Então preparei minhas penas, enfeitei-me com flores, e voei lá no nunca. O doutor disse que foi falta de descanso, é que inflei muito para tão pouco tempo no poleiro, ai pronto... Bati no chão em desmaio. Agora eu nunca mais.
Não sei dizer o que é perder uma coisa que era dom. Não sei dizer uma coisa que era dom. Não dizer era dom. Não era dom. E de novo. Não. Umas coisas suprimidas, umas coisas assim sem liga, umas coisas burras, complexas. O que é que há comigo? A desculpa por existir agora é o tempo? Quando?
Da chaleira a água ferveu tanto que evaporou. Uso roupas leves. Não me assumi vapor ainda, eu não nasci vapor. Quero ser concreta enferrujada e imunda. Vapor não. No ar outro pretexto por estar misturada e insípida. Até terra ser. Não, terra não. Uma até lambida áspera no cimento.

Nenhum comentário: