Foi como olhar o passado do alto. O veludo das peles nossas já não eram quentinhos. As reminiscências por mim contadas me eram alheias. E as nossas saudades, hoje, me são saudosas. Parece uma grande ausência do grande amor. Posso lembrar à tarde, quando a chuva surpreendeu os panos leves da tua blusa e apertou-me o nó que não era gravata. Nem vermelha ficaste, pelo contrário teus olhos migraram aos meus implorando desejos, e eram eles tantos. Os primeiros beijos, os primeiros cantos. Era mesmo a idade acentuando o romance.
Com o tempo permitem-se os proibidos, o corpo dorme ao lado, querendo mesmo o sono, os beijos pouco molhados desmancham,tem fim, e os telefonemas, ah... os telefonemas antes tão teus, tão por mim esperados, hoje formais lembram telegramas, também nosso sexo as sextas. Por isso quando me vieram perguntar, titubeei no porquê. Sem saber de fato, o motivo da incerteza, a resposta agora me é cristalina. Eu entendo o nosso amor. É isso. Não é a frase apaixonada, do amor singular, um quase enigma que os donos, e apenas eles compreendem, não. Para o nosso, tem tese e tudo, tem as fotos, a matemática. O problema dele é a razão. Eu e você perdemos a paixão por aí. Não é um ritual, não é uma bula, não é chato, não é fácil, não é vazio, é só o tempo, é só saber aonde vai dar. Ai o “mas porque você se apaixonou por ela, sabe, num primeiro momento, por quê?”, ai isso fica assim... Tristonho, antigo. Tento aqui feito algum romântico ficar recuperando aquelas nossas coisas. Fico aqui contando as nossas coisas para pessoas ou coisas, até as nossas coisinhas eu contei, arrancando-lhes risadas, não era aquela tua, embora você risse também. Eu e meu papo de aleijado. Queria que nosso amor ainda pudesse caminhar.
Será que eles entendem? Será que tu me entendes, ou ainda me espera as seis?
Do restaurante até a cama, só um casal, depois quieto, eu te amo. Embora ainda.
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