Nem se quisesse existiria, não é ficcional porque não pode ser. Tenho uma ânsia de arte hoje. Não só hoje claro, mas é hoje que grita. O falatório em primeira pessoa nos espelhos deixa de ser um hábito, para ser entrevista. A melhor entrevista não televisionada aconteceu hoje, ninguém piscou, nem fez xixi, nem largou de mão, eu poderia ouvir os telefones amigos tocando de orgulho “Olha só pra ela”. Diriam que estive linda, e que pude discorrer sobre todos os assuntos em pauta, teria me saído muito bem numa mesa redonda, não qualquer, uma com meus grandes ídolos, pessoas preenchidas de baunilha, pessoas que, dessa vez, não me acarretaram nenhum rubor, pelo contrario apaixonaram-se. Abriram suas casas, abriram suas Urcas, ofereceram-me uvas sem caroço, deitamo-nos em tapetes, e juntos de olhos fechados pensamos o universo. Descobrimos o céu. Alguns choraram, outros riram, uns cantaram, outros escreveram, eu só sujei os cotovelos pendendo a cabeça pra trás, os fios no chão feito balanço de rede, pensei baixinho um pensamento raso, desses feijão com arroz. A barriga roncava, não é coisa pouca. Pensei por ver. Houve então um tipo de osmose conjunta, uma sinfonia de morcegos, que toda a gente que ali estava, que todo o então mundo sentiu. Como a letra de uma canção antiga que só depois que o canto cansa se descobre o que diz. É feito a repaixão. O fim do coma. Adoçante de solidão. Redondo universo. Meu umbigo.
Sentimos por completo, eu e meus heróis, a ventura de sermos únicos.
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