Qual é o remédio pro dessentimento? Porque o que sinto, se sinto é tudo tanto fazendo. E eu cá fora. Porque sempre fui a melhor atriz, e nunca deixei de ir a qualquer cerimônia por falta de roupagem, eu ia nua, sem subterfúgios quaisquer. Se era triste, triste; se feliz, feliz. Entregava-me a personagem por mim criada e acreditava nela. O eu-profundo, o eu-âmago (acho que esse do qual falo nasce mudo e bruto, mas nasce, ainda não sei se morre, mas só a hipótese é a dor do mundo, e digo por mim, pelo meu. Esse do qual falo, não é aquele eu-solidão que é lindo também, só que é pensado. Do que falo antecede, entende? Mora atrás, veio antes. Nem ovo, galinha ou alma, esses são personagens. Falo do clima do que se é – e ainda não é bem ele, mas chega perto.) era pleno e satisfeito, e de certa forma livre, no suor, na saliva, na seiva pela atriz produzida. Era aí que eu ganhava vida. Agora o que acontece é o tempo. Hoje represento mal e o pensamento caminha em fila indiana, coisa de gente. Coisa de gente que nunca parou pra pensar que se é no mínimo dois, e seguem assim unos, e assim não sei, pra mim nunca serviu. Sentar na calçada tudo bem, ótimo, ver a vida passar é valido, juro, mas dormir não. É engraçado notar que não quero dormir. Eu não quer dormir.(e aqui não falo de sono) Tanto que venci a insônia, venci os arrepios que vinham inexplicáveis, venci as câimbras, venci-me, por completo. Sobraram uns personagens sonâmbulos e acéfalos que ainda posso sou.
Eu estou cá fora,
Numa platéia pouca
Assistindo-a improvisar
Querendo (num clima que me é profundo
E não duvido, quente)
A mim retornar.
quarta-feira, 20 de maio de 2009
sábado, 9 de maio de 2009
Sobre as coisas em mar
Das coisas que são só coisas
São umas coisas sós
Coisas azuis saudade
Coisas profundas
Coisas cheias de coisas
Ou coisinhas sujas
Coisas que vão e retornam
Coisas de calma
E coisas ressaca
Coisas que não bastam
Coisas sempre primeiras
A coisa toda, líquida
Coisas que quando noto escorrem do olho quase salgadas
São umas coisas sós
Coisas azuis saudade
Coisas profundas
Coisas cheias de coisas
Ou coisinhas sujas
Coisas que vão e retornam
Coisas de calma
E coisas ressaca
Coisas que não bastam
Coisas sempre primeiras
A coisa toda, líquida
Coisas que quando noto escorrem do olho quase salgadas
quarta-feira, 6 de maio de 2009
Àquela do nome traduzido
E para além dividíamos o chão. Pisávamos as mesmas coisas, a diferença era no dela, menorzinho, de alguma cautela e calejado. Saudade dos pés. Saudade desses que um dia se encontraram pra se entender. Porque foi preciso. Houve precisão. A vinda não haveria de ser tamanho despropósito. Se os pés imundos caminham, destino há. Sorriamos eu e ela, porque tinha a mesma prosódia, o mesmo ritmo. Pra-fa-lar-só-as-pri-mei-ras-sí-la-bas, tinha que descobrir antes a palavra inteira no silêncio de si. Aos poucos,era eu quem recebia a garoa do coração felino, era tão gostoso quando ouvia essas confissões geladinhas, por partilharmos o mesmo medo, que antes de medo, mesmo. O mesmo é a jóia nossa, que nem no Rio se rouba, está seguro, herança, mesmo.
Era de dar inveja, porque não costuma ter disso. Eram muitos dentes e danças, e as coisas em mar. E não pense você que isso aí é sentimento sozinho. Não. O que era transcendia, catarse física, amor de irmão. Assim mãos dadas, pegamos o primeiro ônibus ao acaso, com a sorte mais certa, aquela dos pés conjuntos, não tem erro desce no ponto final. Acho que me distraí, só pode ter sido.
Ela foi.
Eu fiquei.
Era de dar inveja, porque não costuma ter disso. Eram muitos dentes e danças, e as coisas em mar. E não pense você que isso aí é sentimento sozinho. Não. O que era transcendia, catarse física, amor de irmão. Assim mãos dadas, pegamos o primeiro ônibus ao acaso, com a sorte mais certa, aquela dos pés conjuntos, não tem erro desce no ponto final. Acho que me distraí, só pode ter sido.
Ela foi.
Eu fiquei.
segunda-feira, 4 de maio de 2009
Mais do mesmo
Tem a sensação corrida de não ter mais tempo pra fazer nada, ainda que seja somente o que faço. Debaixo do edredom ou com os pés no sol. Não gosto das tarefas, eu gosto do trajeto. To sem hora pras unhas e pros recados. Pensei em três textos e três pretextos para não escrevê-los, ta certo, não eram tão bons assim. Mas era letra vaidosa, língua. Quero uma língua carnuda e habilidosa, curtida, mediana, lúcida, úmida, uma língua bem úmida de presente. Já descobri no pouco que andei, que remédio e não só pra mim é língua e todas as maravilhosas texturas lexicais por ela produzidas. Língua cola pra grudar quem quiser e bomba pra explodir quando.
Vivo um desespero calmo, desses piores. A amiga disse, você tá em crise, é visível. O problema é que tem tempo, o problema é que alivia vez por outra, eu sei que sim, não é dor perene. O problema é da ordem dos planetas que desde quando brotada no mundo, puseram-me uma ânsia louca por porra nenhuma. O problema mesmo é que quando penso que consigo, eu quero menos disso e mais de qualquer coisa outra.
Vivo um desespero calmo, desses piores. A amiga disse, você tá em crise, é visível. O problema é que tem tempo, o problema é que alivia vez por outra, eu sei que sim, não é dor perene. O problema é da ordem dos planetas que desde quando brotada no mundo, puseram-me uma ânsia louca por porra nenhuma. O problema mesmo é que quando penso que consigo, eu quero menos disso e mais de qualquer coisa outra.
segunda-feira, 27 de abril de 2009
quarta-feira, 22 de abril de 2009
Dieta
Assim, deixa três minutos na panela espera ferver e está pronto, tá bem. Quanto de encontro cabe em três minutos? Quanto de calor até fervilhar? E depois de pronto, faz-se o quê com isso?
Esse glacê é de que? De nada, glacê de nada. O recheio também não é lá essas coisas, é seco, por mais que tentasse nada derretia a boca, nem uma fatia de sorriso. O bolo é de quê? De bolo.
Enche barriga até. Mas tenho fome.
Esse glacê é de que? De nada, glacê de nada. O recheio também não é lá essas coisas, é seco, por mais que tentasse nada derretia a boca, nem uma fatia de sorriso. O bolo é de quê? De bolo.
Enche barriga até. Mas tenho fome.
terça-feira, 31 de março de 2009
O jorge
O Jorge é melhor equilibrista que eu. Ele bebe da água que arde muita, em questão de copos o pessoal diz que no número tem até zero, eu nunca vi, mas não duvido. Uma vez o Jorge disse que a morte era o caminho mais simples, eu disse que era relativo, porque nuns dias eu achava que sim e noutros não, ele disse que tá. Outro dia também, ele chegou arregalado dizendo que esqueceu que ontem, já era hoje. Depois acalmou. E contou que a abelha era mais esperta que o dono e menos que os filhos. Depois eu perguntei do Nordeste, ele falou da enchente de sol. Depois eu falei do sul, ele disse se era no Brasil. E o Rio? É lindo. Aí eu falei pra sentarmos, pois sim. Ele disse que não mexessem no seu peixe, eu fiz cara de ué, ele contou que o filé era fácil, e que a cabeça era ossuda, eu disse e daí? Daí que o meu é posta. E não tem muita espinha? Não, ele disse, tem muito pão. Olha Jorge, eu disse a ele, tem dessas coisas que você não sabe, não é? Ele calou. Passou, esqueci da pergunta e o caminho foi silencioso, até logos até nossas casas. Amanhã ele chegou rindo falante, cheio, pedi um picolé de chocolate, ele um de coco que tinha pedacinhos. E disse, e você? eu disse, pois é não sei. Você é logo ali, foi o que ele disse. Aonde? Ali. Mas eu não vi aonde era. Ficamos versando sobre a menina que fazia roupas, aí eu perguntei se era verdade o que diziam, ele perguntou se dava pra ver, eu disse que sim, ele escondeu o rosto nas mãos e brotou água por entre os dedos, eu disse que se acalmasse, pois mesmo se ela não quisesse já era bom de sentir. Ele disse como? E eu provei, Olha Jorge eu dizia, é só ver. Pronto, ele concordou, e falou baixinho, você é boa nisso. No jardim, o Jorge falou que não sabia nome de flor, nem eu sabia. Ele disse que Deus era um que tinha chutado o nome das coisas, e tinha acertado. Aí inventamos uns nomes pra porta e cachorro e vizinho acho, mas durou pouco tempo. Ficamos assim nossos encontros para sempre diferentes, acasos. Sabe, ele disse, acho que eu não sei mais tudo. Isso é normal Jorge, depois passa. Fomos à ponta pra ver quem ficava mais tempo equilibrado, ele caiu logo, lá de cima olhei, ele me emprestou um sorriso úmido e sumiu. Sumiu.
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