domingo, 21 de outubro de 2007

eu e meu colchão d'água

Não... não é uma colcha gigante embora você esteja pensando numa.
É um colchãozão, cheio, lotado de água.
que quando você se deixa ele te envolve, e borbulha e faz barulho e esquenta e te nutre.
Que delícia aqui é tão quente, quentinho. um movimento incessante, que te embala, que te prepara para a vida. Ou a morte. Mas o meu caso é deixar-me aqui, tanto, tanto. Até cansar. Quanta preguiça pode estar contida num ser. Esse é meu empréstimo a ele.
Quem quer sair e conhecer o mundo-cão, quando se pode permanecer nessa clausura boa, nesse útero forjado que é meu apartamento, ou melhor o meu colchão d'água.
Egoísta como ele só, só quer me ver e faz tempo. Mas não ligo não me incomoda. Popular nunca fui, boêmio então... passei longe,me resta apenas me deixar aqui. Acompanhado. E muito bem acompanhado de minha preguiça e meu sono-pragmático-paleativo-permanente.

Porém um dia, nesse fatídico dia, proposital dia. Eu me canso dessa porra toda e hemorrágicamente vou até a cozinha, apanho uma faca e como num flash vejo minha vida de nada passar através dos olhos, e borbulhando de raiva, espumando de fervor, faço o que já deveria ter feito a anos e. Rasgo o colchão d'água. Então, derramado em desânimo, com os pés e a face molhadas, me sento nos restos mortais de plástico impermeável. E talvez me deite com a faca inútil numa mão e nada na outra e durma, no duro. No chão, pra aprender. Ou não.

Enquanto isso, me esqueço.

Um comentário:

Nina Monteiro disse...

Maravilhoso!!!
Clap clap clap clap
te amo
sempre