segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

Feliz ano novo

Quando a Copacabana apaga e o calçadão desincha é que ela vai. Anda só no branco, perde as contas das pedras cinzas. Se pisar nas pretas morre. Morrer é cinza tanto faz, mesmo vestida de branco que é ano novo, e ela antiga perdeu o rumo, esqueceu onde mora, esqueceu se mora, esqueceu seu rosto. Divide o Rio com os donos da rua, os vendedores ambulantes e as putas de folga. Jamais entendeu o espírito hipócrita educado de gente em dias festivos, os sorrisos vem acompanhados de votos de felicidade de gente homogênea. Todos, putas, bandidos, turistas, ricos, pobres, pretos, brancos, de branco, feito anjos, num dia de juízo final. Tendo os rostos amarelos, de fogos chorando de crianças no céu. Esperam a penitencia divina e pulam ondas pra deusas sereias. Enquanto ela senta na rua perdida. A única impura. Querendo deixar toda aquela multidão vermelha, vermelho sangue. Arrancaria os ouvidos e a língua de toda aquela copacabanada. Mas ai o céu torna a escurecer. E tida como bêbada, ela grita feliz dois mil e oito pra mim. Agora toda a gente já é má. Ninguém nem ri, nem sorri, nem olha, nem ninguém. Deixa, já tinha pisado no preto mesmo. Deita na areia imunda e dorme, em casa. Estava morta de sono.

2 comentários:

Gustavo Meirelles disse...

Louca! Feliz Natal e Feliz Ano Novo !=)

Unknown disse...

Temo ser redundante ao fazer qq comentário. Mas não é todo comentário redundante em si?