É por abstinência produtiva que escrevo sobre este homem, que fica atrás da sobra e ali se excede ao despercebido. Por tratar de uma obviedade tão do jeito que coisas originalmente óbvias são, como que porque sim.
Acontece que dentro do que me falta está toda uma grande curiosidade,para então, um sentimento muito próprio de formigas e bichinhos curtos, desses que olham, e param quase que burros diante de tamanha... e mudos. E ficam tão intensamente pouco, até o limite do tédio e a continuidade de suas vidinhas. Uma espécie nossa de curiosidade contemplativa, me luziu desse moço. Já que sua interessancia não deve ser menos que rasa, e não porque sua cabeça não seja absolutamente relevante, apenas por ser esta tão misteriosamente trancafiada, que tanto eu quanto ele seriamos igualmente estranhos ao que se passa lá dentro. Portanto, no raso do que se pode ver foi o quanto compreentendi.
É um boné azul velho sobre a cabeleira branca e um rosto escurecido, não escuro, não amargo,não muito; de rugas cimentadas de tão vivas que são, mas isso por debaixo da barba também branca até o colarinho, que não sente calor, a blusa de manga ou mesmo casaco, mesmo dezembro e chinelos. Na verdade sua figura carece de um cachorro, como poucas outras carecem,é de enxergar ao seu lado o vira-lata cinza, com o pêlo de quem não secou a chuva e barriga de quem divide o que há daquilo que haja.
Perambulam os dois no sopé da ladeira em que moro. Na verdade, vigilante ele não é, porque no fim da rua a igrejinha faz com que embora seja, a rua não seja sem saída. É ela a razão da muita gente que passa por aqui sem morar, muita gente que carece de um vigia que não resida embaixo. Embora o velho não more na casinha sem cancela. A casinha é só um posto simbólico de segurança, já que tudo é, o homem se encarrega de proteger quando quer, sem lucro, prejuízo, e rotina lógica, inúmeras vezes ele faltou, ou desistiu de ir, chega atrasado ou sai mais cedo do horário normal que se quer. Ele e ele mesmo resolvem, e não sei, mas o consenso não me parece pacífico, às vezes, me parece que ele está nessa porque... por alguma razão que descubro e na mesma hora tranco.
Então passo de fininho ali pra não incomodar, mas ele grita de lá um bom dia rabugento, rabugento não, ressentido, mesmo; só que às vezes, também, quando sou eu quem grita, por pensar que talvez o que exista não seja enfim tão mistério, por pisar nas formigas sem querer, porque Eu sou grande; não que ele finja, simplesmente esse homem não me vê.
segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010
segunda-feira, 28 de dezembro de 2009
Meio meu
Ela se espalhou na cama. Bonita, com colcha marrom e estrelinhas que tem uma bola dentro, não são bem estrelinhas, são tipo só losangos. Ela também era bonita, mas vestia preto e as bolinhas na roupa eram em alto relevo. Qualquer abraço não viria só macio, seria relevante. Mas nunca foi de muitos abraços. Abria uma boca ácida, quando, por favor, a acidez dos outros conflita muito com a nossa.
- Olha, olha bem, você jura que essa mulher não é bonita?
- Ué, juro.
- Burro!
(-Tá, é, óbvio.) (Bancando o mau ator)
E não somente, porque este azedo, conflitava com a posse. Quando, por favor, a posse é tão inventiva.
- Ah é? Então “suponhamos” que você estivesse comigo, você ficaria com essa pessoa?
- Não... Nunca... Estaria só com você.(Bancando o bom ator)
- Mentira!
Quer dizer a posse aí não está tão clara, só pra quem pudesse perceber profundo os olhares acusativos dessa primeira frase. É a mãe já com o chinelo na mão e o filho com a boca suja de marrom, mas mãe eu juro que não comi o chocolate agora, guardei pra depois, e também eu juro que vou comer tudo no jantar. (É claro que a criança entrega em especial depois dos tambéns, mas também o tempo tinha que trazer qualquer coisinha de bom; ser sutil adianta com os poucos vividos e ameniza com quem se deixa amenizar. Aliás, vivência é tão sutil que tem muito pouco a ver com tempo.)
Apenas para o deleite da prosa é que faço a distinção das posses. Posto que não há relevância alguma no tópico. A posse do “isto é meu” é um pouco burra pras coisas materiais, só não é de fácil percepção, já pras imateriais é quase que completamente boçal , mas todo mundo insiste em mantê-las na idéia de não-fácil percepção. Certo, a saída para os não céticos é que perdoar ainda é divino; pros céticos, fica a racionalidade mesmo. O outro tipo é quando “isto não é meu, mas eu ajo como se fosse”. Risos. (Tem isto no diálogo supracitado, agi como se pudesse ser engraçado.)
Tem outra coisa também: “isso é muito meu”. Só que isso aí, tem posse zero. É só uma manifestação imprescindível e auto-suficiente que constata. Na verdade, serve pra muito pouco, quando em muita, chata, e quando certa, bela.
- Outro dia eu tava passando pelo Aterro, naquela parte que as árvores dão licença pro mar, e ai vê-se um pouco dele, um pouco de pedra, um pouco de prédio, em meio à tudo sabe? Daí falei, meio que em voz média, do tipo deu pro cara do lado ouvir e ele tava um pouco dormindo, O Rio é lindo.
- Po, isso é muito seu.
Vê? É bobo, quase bonito, com lapsos de imprescindível, e isso é muito meu.
- Olha, olha bem, você jura que essa mulher não é bonita?
- Ué, juro.
- Burro!
(-Tá, é, óbvio.) (Bancando o mau ator)
E não somente, porque este azedo, conflitava com a posse. Quando, por favor, a posse é tão inventiva.
- Ah é? Então “suponhamos” que você estivesse comigo, você ficaria com essa pessoa?
- Não... Nunca... Estaria só com você.(Bancando o bom ator)
- Mentira!
Quer dizer a posse aí não está tão clara, só pra quem pudesse perceber profundo os olhares acusativos dessa primeira frase. É a mãe já com o chinelo na mão e o filho com a boca suja de marrom, mas mãe eu juro que não comi o chocolate agora, guardei pra depois, e também eu juro que vou comer tudo no jantar. (É claro que a criança entrega em especial depois dos tambéns, mas também o tempo tinha que trazer qualquer coisinha de bom; ser sutil adianta com os poucos vividos e ameniza com quem se deixa amenizar. Aliás, vivência é tão sutil que tem muito pouco a ver com tempo.)
Apenas para o deleite da prosa é que faço a distinção das posses. Posto que não há relevância alguma no tópico. A posse do “isto é meu” é um pouco burra pras coisas materiais, só não é de fácil percepção, já pras imateriais é quase que completamente boçal , mas todo mundo insiste em mantê-las na idéia de não-fácil percepção. Certo, a saída para os não céticos é que perdoar ainda é divino; pros céticos, fica a racionalidade mesmo. O outro tipo é quando “isto não é meu, mas eu ajo como se fosse”. Risos. (Tem isto no diálogo supracitado, agi como se pudesse ser engraçado.)
Tem outra coisa também: “isso é muito meu”. Só que isso aí, tem posse zero. É só uma manifestação imprescindível e auto-suficiente que constata. Na verdade, serve pra muito pouco, quando em muita, chata, e quando certa, bela.
- Outro dia eu tava passando pelo Aterro, naquela parte que as árvores dão licença pro mar, e ai vê-se um pouco dele, um pouco de pedra, um pouco de prédio, em meio à tudo sabe? Daí falei, meio que em voz média, do tipo deu pro cara do lado ouvir e ele tava um pouco dormindo, O Rio é lindo.
- Po, isso é muito seu.
Vê? É bobo, quase bonito, com lapsos de imprescindível, e isso é muito meu.
segunda-feira, 7 de dezembro de 2009
quarta-feira, 25 de novembro de 2009
Luz de emergência
É o depois do branco quando ligo pro que me cativa um pouco. É a miséria de um colorido. Da pouca austeridade, que é o que menos tenho sem saber muito o que é. É como se acabasse um filme ruim, o entendesse ruim, mas triste e porque triste úmido. Na verdade, o branco é o clarão de fora, que faz feito nas máquinas fotográficas analógicas – eu não sei se é assim que se chamam, mas fiz a analogia de relógios – nelas a luz entra pra refletir, essa coisa da física que não entendo muito bem, só sei da existência. A física minha quer estar junto, mas isso é coisa outra.
Pois quando clareia fora, parece que clareia dentro. E quando escurece fora, dentro é a mesma coisa. Pequenino, mas assim.
Hoje faltou luz na casa, mas ainda era tardinha e as janelas arroseavam o sol indo embora nas paredes. Essa iminência de penumbra, eu concordo, deixa o ser humano à sentimento. O escuro certo dá medo, é irremediável a morte do dia, isso sempre, mas na falta de luz piora. Piora porque dá pra ouvir o quietar do tempo, escuta-se o ócio, o murchar das coisas, o silêncio em preto.
E eu não quero. Porque em minha alma existe plena e acompanhada uma atenção a todas as coisas. Importa que eu não apenas sinta, mas veja todas as coisas que me envolvem e acarinham. Apreço pelo macio da cadeira, do algodão, a textura antiga do livro, o liso dos cabelos, uns que o corpo supostamente decorou, mas de olhos fechados acentua. Parece incrível mas só eu quero mandar nos sentidos, sou demasiadamente humana para deixar que um fio quebrado, uma chuva forte ou qualquer acaso torpe me diga quando sentir muito. No beijo sim, no vento forte. Eu vou dizer quando. O fechar dos olhos é escurecer de fora, é morar só em si. Já me disseram que pisco muito.
Faltar luz não. Quem disse que estou preparada pra mim mesma? Melhor, quem está? Surpreender-se com o alheio é obtuso suficiente, agora consigo mesmo é foda...
Mas bem, continuo. Ainda não é noite. Não uso óculos. Vou cozinhando meu âmago para um existencialismo barato, que sei estar por vir.
Até que, me trazem uma lâmpada. Uma luz de emergência. O titulo parece tão óbvio agora.
Posso portanto, apenas continuar minha leitura de um romance factual que não suscita nada a ninguém, a não ser inveja do romance dos protagonistas, um filme úmido.
Pousa no branco um mosquito, sua sombra interrompe minhas letras, num trajeto não linha. Bato a mão no bicho, e prossigo.
Não. Ao vê-lo caminhar capenga, percebo que arranquei-lhe uma das asas, ele caminha em círculos, depois em ziguezague, e vai ralentando, ralentando , até não poder mais.
Choro, eu nunca quis lhe fazer mal. Me arrependi. Quero pedir desculpas, remediá-lo, desler a droga do livro, chorar mais, reavivá-lo, permitir que voe por ali seu vôo silencioso, seu bater de asas fraquinho, num corpinho tão frágil que nem mexe pra respirar, que vai esvaindo de vida sem dar um pio, dar notícia, sem dizer ao que veio e apaga só porque pára pra sumir junto a poeira.
Minha mãe passa pergunta o que houve, se é sobre o livro, e eu digo que não, matei um bichinho, ela diz que bichinho, eu digo um desses que voam, ela diz um grande, eu digo não pequenininho, ela diz ah e sai.
Pra mim, há sempre a surpresa do escuro aqui.
Pois quando clareia fora, parece que clareia dentro. E quando escurece fora, dentro é a mesma coisa. Pequenino, mas assim.
Hoje faltou luz na casa, mas ainda era tardinha e as janelas arroseavam o sol indo embora nas paredes. Essa iminência de penumbra, eu concordo, deixa o ser humano à sentimento. O escuro certo dá medo, é irremediável a morte do dia, isso sempre, mas na falta de luz piora. Piora porque dá pra ouvir o quietar do tempo, escuta-se o ócio, o murchar das coisas, o silêncio em preto.
E eu não quero. Porque em minha alma existe plena e acompanhada uma atenção a todas as coisas. Importa que eu não apenas sinta, mas veja todas as coisas que me envolvem e acarinham. Apreço pelo macio da cadeira, do algodão, a textura antiga do livro, o liso dos cabelos, uns que o corpo supostamente decorou, mas de olhos fechados acentua. Parece incrível mas só eu quero mandar nos sentidos, sou demasiadamente humana para deixar que um fio quebrado, uma chuva forte ou qualquer acaso torpe me diga quando sentir muito. No beijo sim, no vento forte. Eu vou dizer quando. O fechar dos olhos é escurecer de fora, é morar só em si. Já me disseram que pisco muito.
Faltar luz não. Quem disse que estou preparada pra mim mesma? Melhor, quem está? Surpreender-se com o alheio é obtuso suficiente, agora consigo mesmo é foda...
Mas bem, continuo. Ainda não é noite. Não uso óculos. Vou cozinhando meu âmago para um existencialismo barato, que sei estar por vir.
Até que, me trazem uma lâmpada. Uma luz de emergência. O titulo parece tão óbvio agora.
Posso portanto, apenas continuar minha leitura de um romance factual que não suscita nada a ninguém, a não ser inveja do romance dos protagonistas, um filme úmido.
Pousa no branco um mosquito, sua sombra interrompe minhas letras, num trajeto não linha. Bato a mão no bicho, e prossigo.
Não. Ao vê-lo caminhar capenga, percebo que arranquei-lhe uma das asas, ele caminha em círculos, depois em ziguezague, e vai ralentando, ralentando , até não poder mais.
Choro, eu nunca quis lhe fazer mal. Me arrependi. Quero pedir desculpas, remediá-lo, desler a droga do livro, chorar mais, reavivá-lo, permitir que voe por ali seu vôo silencioso, seu bater de asas fraquinho, num corpinho tão frágil que nem mexe pra respirar, que vai esvaindo de vida sem dar um pio, dar notícia, sem dizer ao que veio e apaga só porque pára pra sumir junto a poeira.
Minha mãe passa pergunta o que houve, se é sobre o livro, e eu digo que não, matei um bichinho, ela diz que bichinho, eu digo um desses que voam, ela diz um grande, eu digo não pequenininho, ela diz ah e sai.
Pra mim, há sempre a surpresa do escuro aqui.
domingo, 22 de novembro de 2009
domingo, 1 de novembro de 2009
Mim
Só sou capaz de saber da gestação do eu de vez em quando.
Lógico, porque saber, que não é apenas saber, que o saber é coisa imóvel, então digo descobrir com um rê antes.
Às vezes só.
É o tempo de espelhado.
O espelho: O espelho me chegou quando eu ainda broto, que de broto pra planta é questão de tempo e fruto, de repente, nem dá. (O fruto : O fruto foi onde se mirou com vontade e acabou dando, é esquisito, mas planta não carece explicação, planta é coisa certa, é capim – olha isso que inventei, Em terra de vegetação quem dá fruto é rei, mas é bobo de falar alto.) O espelho espia escondido. Mas o espelho está, e mais, carece. Tanto é que eu já vi planta de muro, dessas que aumentam a perder de vista, regada só de lágrimas, eram dele que chorava. Tudo bem que espelho é de estalo, lembro que fui perguntado “Mas quando é que você virou isso?” (isso bom, o que é de se admirar) e eu respondido “Num sei”. E não sei mesmo, é surpresa tanta se enxergar assim nítido,que marca a gente de incolor pra não sair mais.
Coisas já sabidas: O fruto é matéria de ser, e não outra coisa.
Mexe transparente.
Maduro, quando for, fica.
(E o fruto, vou dizer baixinho, já que as maçãs avermelham, sinto crescer.)
Lógico, porque saber, que não é apenas saber, que o saber é coisa imóvel, então digo descobrir com um rê antes.
Às vezes só.
É o tempo de espelhado.
O espelho: O espelho me chegou quando eu ainda broto, que de broto pra planta é questão de tempo e fruto, de repente, nem dá. (O fruto : O fruto foi onde se mirou com vontade e acabou dando, é esquisito, mas planta não carece explicação, planta é coisa certa, é capim – olha isso que inventei, Em terra de vegetação quem dá fruto é rei, mas é bobo de falar alto.) O espelho espia escondido. Mas o espelho está, e mais, carece. Tanto é que eu já vi planta de muro, dessas que aumentam a perder de vista, regada só de lágrimas, eram dele que chorava. Tudo bem que espelho é de estalo, lembro que fui perguntado “Mas quando é que você virou isso?” (isso bom, o que é de se admirar) e eu respondido “Num sei”. E não sei mesmo, é surpresa tanta se enxergar assim nítido,que marca a gente de incolor pra não sair mais.
Coisas já sabidas: O fruto é matéria de ser, e não outra coisa.
Mexe transparente.
Maduro, quando for, fica.
(E o fruto, vou dizer baixinho, já que as maçãs avermelham, sinto crescer.)
domingo, 4 de outubro de 2009
Só
Domingo dói. Domingo não respeita o ser humano que é só. Ele chega quando não é de sol e fica de dia e a gente dorme esperando acordar de tarde, noite pra remediar domingo.
Domingo não respeita o ser humano que é só. Até quando se está perdido, calendário vivo é um aperto no peito sem se saber domingo.
Domingo não respeita o ser humano que é só. Quando se espera, espera-se muito, ainda mais pra quem sofre de espera, são as coisas que tomam freio, adomingam.
O domingo é desrespeitoso. Porque é de fim, de natureza final, só por isso.
O domingo quando me olha nos olhos, desvio. Quando me toca os lábios, assopro. Quando me dói aos ouvidos eu surdo. Mas quando desisto, é domingo.
Domingo não respeita o ser humano que é só. Até quando se está perdido, calendário vivo é um aperto no peito sem se saber domingo.
Domingo não respeita o ser humano que é só. Quando se espera, espera-se muito, ainda mais pra quem sofre de espera, são as coisas que tomam freio, adomingam.
O domingo é desrespeitoso. Porque é de fim, de natureza final, só por isso.
O domingo quando me olha nos olhos, desvio. Quando me toca os lábios, assopro. Quando me dói aos ouvidos eu surdo. Mas quando desisto, é domingo.
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