sábado, 5 de janeiro de 2008

Epitáfio

Não quero morrer de artrose, nem pneumonia, unha encravada ou câncer. Dor que aceito, só de amor, e eu mais que qualquer outro ser posso afirmar que ninguém morre de amor. (nem da falta dele). E morando por aqui, jamais morreria soterrada por catástrofes naturais eu embaixo de móveis meus antigos de madeira rústica, fraturando meus ossos e falanges, num espaço curto de tempo, daí então, morrendo sem ar, num enterro prévio.

Pouco provável também que eu morra de morte matada, mal tenho amigos, inimigos então... Não tenho porque ser desgostada ou o contrário. Sou nula, vivo em estado meso de confraternizações. Jamais morreria num boteco, olho pra mulher do cara, pisco pra ela, ela sorri com as pernas abertas e eu suo frio, algumas outras cervejas me deixam mais a vontade pra morte desconhecida, quando o marido dela sujeito cuja existência ignorei, levanta me puxa pelos poucos cabelos diz algum “sapatão” e outros “morre”, alguns chutes, uma banda, caio no chão quase desacordada, embaixo das pernas da digníssima senhora, vejo sua buceta e morro de bala perdida.

Quero morrer atropelada, por favor deus me deixa morrer atopelada?

Eu ia atravessar a rua, quando acabasse de sair da drogaria, comprei acetona, modess e chicletes valda (nenhum remédio), ai quase que de súbito, vem um ônibus, sem freio e um motorista morto de sono batendo a cara no valante, bate em mim. Voando eu e o saco plástico, caímos no asfalto preto, ele vazio e eu com unhas por fazer. Não contente, outros carros, carretas e caminhões passam por cima de meu cadáver, me transformando num ser disforme, uma massa humana, cozinhada no chão quente.
Até que seja vendida como cosmético pra madames por alguns bons quinhões e valha pouco mais do que arrecadei em vida.

Um comentário:

Nina Monteiro disse...

Isso é muuuuuuuuuuuuito bom!