sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Possíveis

Combinamos acreditar que tudo é possível. O chamei pra ver a chuva. Atrito com o telefone seco e água na boca. Vem, vem logo! Calcei as meias pra esperar com os pés quentinhos, não fazia frio, só na barriga. Não cabe meia na barriga. Ele chegou molhado com os cadarços desamarrados, da porta da varanda onde estava sentada, sorri, depois gargalhei. Vem, vem ver a chuva comigo. Ele estava frio, mas fazia calor, perguntei o que era, ele disse a chuva. Então porque veio? Porque quis.
Levantei. Vou cuidar de você. Aprontei-lhe o banho quente e o jantar, comida saudável, não... ele não era forte, não éramos. Não somos. Depois fiz-lhe a barba. Ele disse que não era mais um bebê, sabia se cuidar. Insisti. Dei-lhe um beijo no umbigo molhado. Quis não rir o safado. Eu quis carinho, e ele penetração, aceito. Depois de me comer comeu o jantar. Só tinha um pé da meia nos pés.
A chuva parou ele disse. Eu vi eu disse. Lembra quando víamos a chuva? Perguntou. Tento lembrar eu disse. Porque não a amo Paula? Eu deveria amá-la, é a melhor mulher que existe, sabe disso? A melhor. Dentre todas as mulheres que já conheci, dentre todas que já ouvi falar, todas, só você.
Pode ser o nome, quis brincar. Eu sei do desamor.

Bela meia ele disse. Agora eu era um par de meias e salivava diante da presa e suava, Deus como suava. Queria dizer tudo, mas de que me adiantaria tantas construções gramaticais, pra que tanta atuação e tanto dionísio. Para que meu deus se aquele homem não me tinha amor, nem ódio, nem pena, nem gozo, nem verão, nem meias, nem lustre, nem louça, nem casa, nem casório, nem ladeira. Tinha nada. Era só um homem, ali nu parado, lindo.
Vá embora e não volte, eu disse. Mas voltou a chover, ele disse. Mas vieste na chuva,eu disse. Quero ficar, pediu.
A saliva era insípida e agora salga com as lágrimas. Me ame, disse baixo. Me ame. Me ame! Gritei. Ele roboticamente se aproximou. Não, seu imundo! Não ! Saia, saia daqui vai te embora!
Não chore ele disse. Combinamos acreditar que tudo é possível, lembra? Perguntei.
Eu menti, ele disse. Você mente. Pro caralio com as convenções!
Vá embora tomara que pegue chuva e morra de pneumonia, te odeio, nunca mais quero vê-lo está ouvindo? seu filho da puta, nunca mais, e taquei os tênis imundos e as giletes os sabonetes as escovas de dente e cabelos, as mudas de roupas tudo na chuva lamacenta.

Em quinze minutos liguei. Chegaste bem?

Ele chorou ao telefone, me machucas, disse.

Tento, disse.

É bom... É possível?

Tudo é.

Um comentário:

Unknown disse...

esse é meu!
primeiro e tomara que único (tomara pra mim e não por você) a comentar esse aqui, um dos preferidos!