domingo, 12 de outubro de 2008

Dois pra lá, dois pra cá

Como se todos os segredos pudessem ser revelados no sorriso cheio de dentes. Como se a suposta proibição instigasse cada vez mais o libido pelo novo. Como se o rubor na face alva não precisasse ser despistado com olhares baixos. Diante da identificação nela, definitivamente mutua, palpitasse a certeza de uma coisa que sabe lá se é perene, que está aquém do amor e além do amante. Que já era hora de dizer nas perigosas entrelinhas, quase nunca desacompanhadas de ouvintes, que existe um querer. Além de convites imarcáveis, elogios amigáveis e não elogios há dança. Uma dança acanhada, que poderia flutuar, mas tem pés no chão, e mãos atentas. Depois o encontro de olhares não brilha, só olha. Como não pode ser romance, sorriem os dois, desgrudam-se, distintos, que dentro em breve, improvisam nos corpos a vontade retornante. À vontade, poderiam estar descalços. Um pé no outro seria gostoso, como o toque do pêlo, como o encontro dos colos; como era dia sem sol. Certa é a inconstância dos dois, certa e leve, certa e graciosa, certa, cheia, preguiça. Será possível a verdade dos fatos se não conheço a tua alma? Posso dispensar o rebuscamento da nova gramática? Posso avançar no flerte? Quero avançar no flerte? Então fiquemos assim. Indefinidos. Eu a espreita de mim e tu como quiseres e bem entenderes. Pois por enquanto não encontrei o nó na garganta, nem tive vontade de expeli-lo imediatamente como uma louca varrida com toc pela verdade. Reservo a verdade para sua dona, talvez capaz de entender-se e a sua confusão/confissão de linhas. E ao desvalor destas.

Um comentário:

Unknown disse...

Não sei como vim parar por aqui. Sei que um dia entrei e gostei do que li, desde então retorno de tanto em tanto. Queria deixar um comentário, pois o que tu escreves me comove. É lindo.
Quando se tocam os pés, o contato tão repentino e fugaz... É lindo o texto.
Parabéns, de verdade!

Beijo